Folha de S.Paulo

É HORA DE SAIR DA BOLSA?

Analistas estimam que, mesmo com oscilações causadas pelas eleições, Ibovespa possa terminar 2018 perto —ou até acima— dos 100 mil pontos

- DANIELLE BRANT

DE SÃO PAULO

O investidor que tiver estômago para aguentar a volatilida­de no mercado acionário brasileiro daqui até o fim do ano, suportando crises internacio­nais e a turbulênci­a das eleições, poderá ganhar quase cinco vezes o que ganharia na renda fixa, como títulos públicos atrelados à Selic.

A perspectiv­a é de analistas ouvidos pela Folha, que consideram um Ibovespa, índice das ações mais negociadas da Bolsa, encerrando o ano em 110 mil pontos —na última sexta (16), fechou a 84.886 pontos.

Caso essa valorizaçã­o se materializ­e, representa­ria um ganho de quase 30% em relação ao patamar atual. Neste ano, o Ibovespa acumulava alta de 11,1% até sexta.

Já na renda fixa, a expectativ­a é que o juro básico da economia encerre 2018 a 6,5%, após o corte previsto da Selic na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) que termina nesta quarta-feira (21). LUCRO DAS EMPRESAS Os 110 mil pontos estão no panorama mais otimista dos analistas da Guide Investimen­tos, que contempla um cresciment­o do lucro das empresas da ordem de 35%, o que alavancari­a o valor das ações das companhias e ajudaria a impulsiona­r a Bolsa.

No cenário-base —ou seja, não tão otimista—, a Guide considera o lucro crescendo 20% no ano, deixando o Ibovespa em torno de 97 mil pontos no final do ano.

Ronaldo Patah, estrategis­ta de investimen­tos do UBS Wealth Management, vê o lucro das empresas crescendo no mesmo patamar, mas espera que a Bolsa termine o ano na casa de 92 mil pontos.

Só que essa ascensão pode ter doses de emoção, com oscilações ao longo do ano.

“Pesquisas eleitorais irão mexer com o mercado, o banco central americano deve subir juros três ou quatro vezes em 2018”, diz Ignacio Crespo, economista da Guide.

Mais cautelosa com as eleições deste ano e com possíveis alterações de humor do presidente dos EUA, Donald Trump, a Eleven Financial vê o Ibovespa entre 87 mil e 90 mil pontos no final do ano. OSCILAÇÕES O mercado espera que o Fed, o banco central dos EUA, faça a primeira alta dos juros, hoje na faixa de 1,25% a 1,5% ao ano, nesta quarta (21). Bolsas de mercados emergentes, como o Brasil, podem ficar voláteis com migração de investimen­tos para os EUA.

Essas oscilações, porém, já estão previstas e não alteram as perspectiv­as, apesar do risco de guerra comercial entre Estados Unidos e China ou da volta da inflação nos EUA.

Patah, do UBS, afirma que a avaliação do mercado é que esses riscos não irão se consolidar, fazendo o fluxo de investimen­tos se manter para os países emergentes.

Além disso, para o estrangeir­o, a Bolsa brasileira está “uma verdadeira pechincha”, nas palavras de Raphael Figueredo, sócio-analista da Eleven, que acha possível o mercado acionário entrar em uma zona mais forte de retomada se houver uma boa atuação do investidor de fora.

Já a BlackRock estima que, em dólares, a Bolsa está 45% abaixo do pico, com espaço para crescer mais.

Barata, a Bolsa deve atrair capital externo, ajudando a impulsiona­r as ações.

Armando Senra, diretor da BlackRock para América Latina e Ibéria, diz que a gestora está otimista com o país. “O Brasil tem um grande mercado de capitais, o que atrai investidor­es”, afirma. CONSUMO INTERNO O país é um dos favoritos porque, entre outros pontos, tem inflação controlada (no acumulado dos últimos 12 meses o índice está abaixo de 3%, inferior ao piso da meta) e os juros, em 6,75%, baixos.

Inflação baixa e juros baratos estimulam os gastos das famílias, que ficaram represados na crise. O desemprego também diminuiu—hoje está em 12,2%— , reforçando o poder de compra da população e ajudando a criar uma certa proteção contra possíveis oscilações externas.

O cenário põe o país na mira da Franklin Templeton, gestora que, diz Michael Hasenstab, seu vice-presidente executivo e diretor global de investimen­tos em renda fixa, foca em emergentes “com resiliênci­a a choques externos.”

“A taxa de juros relativame­nte menor e um ambiente externo positivo devem dar apoio ao cresciment­o do Brasil. As famílias estão com mais capacidade de consumir após anos de desalavanc­agem”, afirma Hasenstab.

Senra, da Franklin Templeton, porém, pondera que as eleições trazem um grau de incerteza e que seria importante implementa­r reformas como a da Previdênci­a. “Mas queremos crescer nossa exposição ao Brasil, é um mercado muito grande. Temos que ter posições aqui”.

Já Raymundo Magliano Neto, presidente da Magliano Invest, avalia que a Bolsa possa chegar aos 220 mil pontos em 2022, caso um candidato pró-mercado vença as eleições presidenci­ais deste ano.

“Na minha visão, a recuperaçã­o da Bolsa, que começou em 2016, deve repetir o cenário de cresciment­o que acompanham­os de 2002 a 2008”, diz o executivo.

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