Criminosos podem ter perseguido carro de Marielle por 4 km
Tiros foram direcionados ao local onde estava a vereadora e partiram de arma de uso restrito das forças de segurança
Polícia suspeita que assassinato dela tenha sido encomendado, por causa da característica do ataque ao veículo
A Polícia Civil do Rio busca em câmeras de segurança em todo o trajeto percorrido pelo veículo da vereadora Marielle Franco (PSOL), morta no fim da noite de quarta (14), detalhes que permitam identificar os assassinos e entender como o crime ocorreu.
As imagens obtidas no centro e no bairro vizinho, do Estácio, onde os disparos contra o carro da vereadora foram efetuados, estão sendo analisadas por agentes da Delegacia de Homicídios.
O veículo percorreu 4 km entre a Lapa, na região central, onde Marielle participou de um evento, e o local do crime, no Estácio, na zona norte. A polícia investiga se a parlamentar foi perseguida durante todo o trajeto.
O carro foi atingido por nove disparos. Marielle, 38, foi morta com quatro tiros de pistola na cabeça. O motorista, Anderson Pedro Gomes, 39, também assassinado, foi baleado três vezes nas costas — ele estava na linha de tiro da vereadora. A terceira ocupante, Fernanda Chaves, não foi atingida e sofreu apenas escoriações leves.
Os policiais vasculham essas câmeras para entender em que ponto Marielle começou a ser seguida. Ela passou o dia na Câmara Municipal e depois participou de um debate sobre movimento negro.
Após os disparos, que partiram de um carro que emparelhou com o da vereadora, o veículo em que ela estava percorreu cerca de 200 metros.
O carro atingido tinha vidros escuros, e a maior parte dos tiros foram justamente no ponto em que a parlamentar estava, no banco de trás, no lado direito do veículo. Para investigadores, esse é um indício de que o atirador sabia que a vereadora estava sentada naquele lugar.
Os tiros partiram de pistola nove milímetros, de uso restrito das forças de segurança. CIDADE NOVA O trecho do centro do Rio onde ocorreu o crime, conhecido como Cidade Nova, é onde fica o prédio da prefeitura, do Centro de Operações da cidade e de um espaço privado de convenções. O local foi revitalizado há poucos anos e conta com diversas câmeras de trânsito e segurança. Há uma câmera posicionada exatamente na esquina onde ocorreu o assassinato.
A polícia ainda não divulgou imagens coletadas na região. Os investigadores não falam abertamente em “execução”, mas os indícios são fortes de que tenha ocorrido um crime de encomenda. Nada do carro foi levado, o que enfraquece que a intenção dos criminosos tenha sido um assalto, por exemplo.
O chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, admitiu que o crime pode ter sido uma “execução”, mas afirmou que a investigação está sob sigilo. “Estamos diante de um caso extremamente grave que atenta contra a dignidade da pessoa humana e contra a democracia”, disse Barbosa.
Já o interventor federal, general Walter Braga Netto, determinou prioridade nas investigações. As autoridades, contudo, esclarecem pouco a dinâmica do crime. O tom geral de notas divulgadas ao longo do dia foi de que o trabalho será feito com rigor.
A Folha apurou que as autoridades reduzirão a quantidade de declarações públicas sobre o caso para evitar ruídos de comunicação que possam gerar críticas ao trabalho. Os posicionamentos e o contato com a imprensa serão restritos até que novos fatos sejam descobertos pela polícia. Nesta quinta (15), por exemplo, a primeira declaração oficial da polícia sobre o caso ocorreu cerca de 15 horas após os assassinatos.
Oito equipes da Delegacia de Homicídios trabalham no caso. A assessora que sobreviveu prestou depoimento por cerca de três horas na madrugada. Um outra testemunha também foi ouvida.
Segundo colegas de Marielle, militante dos direitos humanos e contrária ao modelo de segurança pública e a própria intervenção federal no estado, ela não vinha recebendo ameaças. INTERVENÇÃO O crime ocorre dois dias antes de o Rio completar um mês sob intervenção federal na segurança. Desde a que a medida foi anunciada pelo presidente Temer, todo o comando da polícia passou a ser subordinado ao interventor.
A vereadora havia sido nomeada uma das relatoras do grupo criado na Câmara Municipal para acompanhar as ações da intervenção no Rio. No último dia 11, ela havia criticado abusos policiais contra moradores da favela de Acari. (LUCAS VETTORAZZO, SÉRGIO RANGEL E NICOLA PAMPLONA) AS VÍTIMAS OUTROS FATOS