Fragmentos mostram liberdade de César Aira
FOLHA
Merece celebração o empenho de editoras independentes para difundir a profusa obra de César Aira no Brasil.
Em 2016, a catarinense Cultura e Barbárie lançou “Três Histórias Pringlenses”, mas quase ninguém soube disso. Graças à curitibana Arte e Letra o leitor brasileiro tem o prazer secreto de ler a coletânea de ensaios “Pequeno Manual de Procedimentos”, que só existe aqui.
Agora, a carioca Papéis Selvagens traz “Continuação de Ideias Diversas”, antes publicada no Chile em edição da UDP tão facilmente encontrável quanto a mosca branca do reino da Núbia.
Em artigo recente, o crítico espanhol Jorge Carrión perguntava-se se o escritor argentino não seria melhor ensaísta do que ficcionista.
É coerente a dúvida, pois as passagens mais provocativas e divertidas das “novelitas” e contos de Aira costumam ser divagações do narrador, que, em geral, têm pouco a ver com o que é narrado e muito com a pulsão ensaística do autor.
São considerações sobre a própria poética, Madame de Pompadour, o cinema de Godard, arte moderna e a natureza lábil de gêneros literários como a crônica, os diários e, evidentemente, o ensaio.
A liberdade do pensamento de Aira parece fluir melhor à margem, e é isto o que lembram essas notas de extensão de não mais do que meia página: continuações derivativas daquilo que era matutado no leito central de outros textos, livres associações que fugiram de sua condição ficcional e sobreviveram na margem do caderno em forma de ideias límpidas.
Extravagante, Aira preserva o direito de se repetir apenas em entrevistas, e em diversas delas afirmou sua opção consciente pela clareza textual em detrimento da linguagem rebuscada, pois suas