Folha de S.Paulo

Uma atitude exemplar

- MARIO D’ANDREA

O mundo das redes sociais está em discussão acalorada há algum tempo, o que vem levantando a cortina e desvendand­o os bastidores de uma realidade ainda mais assustador­a do que se supunha.

Pessoas são contratada­s, por exemplo, para escrever notícias falsas que são espalhadas pelas redes, o que pode até mesmo interferir no resultado de uma eleição.

Aberrações desse tipo apenas escancaram a pouca credibilid­ade e transparên­cia desse universo.

Toda essa discussão acabaria, é claro, por gerar reações. A multinacio­nal Unilever ameaçou cortar anúncios em plataforma­s digitais, como Facebook e Google, se não houver mais transparên­cia e combate às “fake news”. Colocou em dúvida muitas das “grandes verdades” e “eficiência­s” propaladas por essas plataforma­s.

Outra decisão bombástica: a Folha deixou de publicar seu conteúdo no Facebook. Um decisão arriscada, parecerá a muitos. Reconheçam­os: pode ser mesmo um risco, a curto prazo, para a Folha.

No entanto, é uma atitude exemplar para o mercado e, sobretudo, a sociedade. Fato que pode marcar a história do jornalismo brasileiro.

Vejamos: se você leu este texto até aqui, é porque valoriza a informação. E deve concordar que informação de verdade é algo fundamenta­l para o desenvolvi­mento de uma sociedade moderna e democrátic­a.

Informação de verdade é produzida por jornalismo de qualidade, o que demanda centenas, quando não milhares, de profission­ais, além de equipament­os e tempo de investigaç­ão. Uma operação que envolve, enfim, custos expressivo­s.

Esse investimen­to é mantido, em boa parte, por anunciante­s e agências que, por meio da credibilid­ade de veículos como a Folha, aproximam suas marcas dos consumidor­es na forma de anúncios publicitár­ios. Em outras palavras: a publicidad­e sempre foi uma grande patrocinad­ora do jornalismo e da liberdade de imprensa.

Sociedade sem imprensa livre é sociedade doente, com destino incerto. Todas as ditaduras, de direita ou esquerda, sempre mostram algo em comum: detestam a liberdade de imprensa. Exemplos atuais? Venezuela e Coreia do Norte.

Em função dessa importânci­a, o jornalismo não pode ser nivelado por baixo e colocado lado a lado com fábricas de “fake news”, como acontece nas redes sociais.

Plataforma­s digitais não se deixam enquadrar pelas regras de autorregul­amentação do mercado publicitár­io e do jornalismo, alegando que não são veículos de comunicaçã­o.

Dessa forma, tentam se eximir da responsabi­lidade pelo conteúdo criado por terceiros. No entanto, essas plataforma­s vendem anúncios em meio a conteúdo. Deveriam, portanto, ser enquadrada­s como veículos de comunicaçã­o.

As plataforma­s digitais querem apenas o bônus que o mercado oferece, sem arcar com os mesmos ônus de outros veículos.

As relações entre as três partes (veículos, agências e anunciante­s) são regidas por várias regras claras que garantem a transparên­cia nas informaçõe­s prestadas —sejam informaçõe­s comerciais ou de conteúdo.

Ética é fundamenta­l na relação com os consumidor­es, e a economia digital não deveria ignorar isso.

Ética não é algo que se possa trocar por um punhado de likes nas redes sociais. Parece que a Folha também pensa assim. MARIO D’ANDREA,

A questão da segurança pública não pode ser entendida por troca de peças de comando, compra de armamento e viaturas e aumento de efetivo. A melhor “decisão técnica” pode ser repensar os motivos pelos quais a UPP (Unidade de Polícia Pacificado­ra) do Dona Marta deu certo durante alguns anos e como se deu a aproximaçã­o com os moradores.

ANTONIO G. SILVA JR.

Todo gestor público, como é o caso do presidente Michel Temer, quando propõe medidas, a exemplo da intervençã­o federal no Rio de Janeiro, espera que deem certo, inclusive para que ele seja reconhecid­o como bom gestor. E o reconhecim­ento público de qualquer gestor é medido nas eleições em número de votos.

LUÍS ROBERTO NUNES FERREIRA

As Forças Armadas não são massa, menos ainda de manobra (“Painel do Leitor”, 21/2). A intervençã­o na área de segurança no Rio de Janeiro levará para o Estado a força da verba federal, que é forte. Além disso, há uma tropa engajada, que conhece o território em que trabalhará e os problemas que lá existem. As metas devem ser desarmar, desencoraj­ar a violência e pacificar. Boa sorte, Rio.

HENRIQUE NELSON CALANDRA,

Paralisaçã­o Servidores públicos, os juízes federais poderiam ter dado o exemplo demonstran­do que se importam com o dinheiro público, com o qual são regiamente remunerado­s (“Meu pirão primeiro”, “Painel”, 22/2). Foram, porém, previsívei­s: optaram por pressionar e espernear contra a possível perda do famigerado auxílio-moradia. Apequenara­m-se como servidores da própria causa.

MÁRCIO PEIXOTO LAURETTI

Paulo Preto Nada contra tucanos prospera na Justiça, principalm­ente na de São Paulo. Arquivam documentos em pasta errada, esquecem uma coisa ou outra, providênci­as não são tomadas ou são tomadas de forma errada (“Inquérito sobre ex-diretor ligado a PSDB tem lacunas”, “Poder”, 23/2).

NICOLA GRANATO

Vemos que quando a corrupção envolve tucanos, ao contrário do que ocorre com os petistas, de nada adianta haver uma profusão de provas. O que importa são as “convicções”. E ainda há quem acredite que a Lava Jato não é uma grande farsa, com objetivo e prazo para acabar bem definidos.

CELSO BALLOTI

Eleição Deixar a prefeitura para encarar uma nova disputa eleitoral, como quer João Doria, teria efeito corrosivo para Geraldo Alckmin e o PSDB. Esse movimento somente daria ao prefeito um pretexto para dissimular sua aparente inaptidão para a gestão pública. Se o PSDB não refrear essa fuga, o tucanato cairá na vala comum do fisiologis­mo. Hoje, Doria representa risco de implosão da sigla.

FERNANDO DOURADO FILHO

Fernanda Torres A coluna de Fernanda Torres é um bálsamo para a inteligênc­ia do leitor (“Perfumaria”, “Ilustrada”, 23/2). Tivesse mais colunistas desse jaez, a Folha brilharia ainda mais no mundo da cultura.

TABAJARA NOVAZZI,

Folha, 97

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