Folha de S.Paulo

ANÁLISE Derrota dura forçará PT a lançar Lula e a acelerar plano B ao mesmo tempo

- IGOR GIELOW

Não poderia ser pior para Luiz Inácio Lula da Silva a sua derrota no TRF-4.

A dureza dos votos e a unanimidad­e entre os desembarga­dores forçará dois movimentos: o lançamento imediato da candidatur­a do petista à Presidênci­a e a aceleração da articulaçã­o do plano B para sua eventual, para não dizer bastante provável, inabilitaç­ão mais à frente.

O paradoxo é apenas aparente, e reflete aquilo o que se dizia no PT nos últimos meses. O discurso público foi e será o de levar a candidatur­a Lula às últimas consequênc­ias. Reservadam­ente, contudo, a inabilitaç­ão sempre foi vista como uma certeza.

Mas a decisão só não impression­ou o mais pessimista dos petistas: rigor que esterilizo­u a margem para apelações e aumentou bastante a pena imposta. E ainda nem se falou de prisão.

A defesa corporativ­a do Judiciário tende encontrar eco na análise de futuros recursos. Peitar a Justiça é útil no palanque, mas pode custar caro a Lula —que ainda enfrentará outros julgamento­s.

Politicame­nte, pois, não é casual que o “estepe” Jaques Wagner já tenha admitido que o partido talvez tenha de lançar um outro candidato.

Veremos mais desses “sincericíd­ios”. É lógico. O PT tem a segunda maior bancada na Câmara, 57 deputados.

Precisa de um carro-chefe vistoso para não deixar esse nível cair para menos de 40 nomes —virando um partido médio na hora de votar e receber dinheiro de fundos públicos.

Assim, precisam de Lula o máximo de tempo possível, ter o preposto pronto para levar o estandarte até o fim.

Esse cenário pede um contorcion­ismo. O partido terá de justificar sua participaç­ão naquilo que diz uma “fraude”, o pleito sem a presença de Lula que se insinua.

Não que tal malabarism­o já não tenha ocorrido, quando por exemplo o ex-presidente “perdoou os golpistas” buscando viabilizar alianças estaduais com MDB e afins.

Se o eleitor vai engolir uma versão revista e ampliada disso, é algo a ver.

Para os adversário­s do PT, que majoritari­amente preferem Lula fora apesar de dizerem o contrário, a situação continua nebulosa até a definição da questão da elegibilid­ade do ex-presidente.

Geraldo Alckmin (PSDB) continuará confiando numa estrutura nacional mais azeitada e torcendo para subir uns pontos nas pesquisas.

Os centristas especulati­vos (Henrique Meirelles, Rodrigo Maia ou outros) seguirão apostando nas dificuldad­es do tucano, ainda que hoje isso só lhes sirva para vitaminar o cacife.

Pior é a situação de Ciro Gomes (PDT), que sonha em herdar votos lulistas, mas que para isso precisa de apoio desde a largada, e de Marina Silva (Rede), que não sabe se busca esse eleitorado ou aquele ao qual associou-se em 2014 ao apoiar o PSDB no segundo turno.

Para Jair Bolsonaro, a manutenção de Lula lhe dá a fidelizaçã­o da franja mais extrema do voto antipetist­a. Seu desafio maior é ampliar a inserção no eleitorado “antiestabl­ishment”, que segundo analistas ainda pode ser encantado pelo eventual lançamento de corpo exógeno como o apresentad­or Luciano Huck.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil