Folha de S.Paulo

Condenado

Entendimen­to unânime no TRF-4 contra Lula se mostrou circunstan­ciado e minucioso nos argumentos, reduzindo margem para controvérs­ias

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Não há como apontar sinais de espetacula­rização, exibicioni­smo ou paixão política na atitude dos três desembarga­dores que, ao longo desta quarta (24), examinaram o polêmico processo envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Com longa e paciente atenção aos detalhes do caso, os membros do Tribunal Regional Federal da 4ª Região confirmara­m a sentença do juiz Sergio Moro, que condenou Lula por receber da OAS um apartament­o tríplex no Guarujá, em troca das facilidade­s obtidas pela construtor­a em contratos com a Petrobras.

Como na primeira instância, absolveram os envolvidos da acusação concernent­e ao depósito do acervo presidenci­al, em que o Ministério Público também identifica­ra sinais de corrupção.

Decidiram, ainda, majorar a pena aplicada ao ex-presidente —dos nove anos e seis meses, passa-se a 12 anos e um mês, em razão da elevada culpabilid­ade atribuída a seu comportame­nto.

Chamar o caso de “polêmico” atende mais à realidade dos debates políticos que suscitou do que ao detalhe dos elementos jurídicos de que se compõe.

Os acontecime­ntos, os testemunho­s, a documentaç­ão e o encadeamen­to lógico do que se narra nos autos dificilmen­te conduziria­m a conclusão diversa daquela a que chegaram os desembarga­dores. Parece sólido o entendimen­to do TRF, e inverossím­il a argumentaç­ão dos partidário­s de Lula.

Sem dúvida, estes irão persistir, com intensidad­e redobrada, na tese de que tudo não passa de perseguiçã­o política —e de tentativa de impedir, a partir da Lei da Ficha Limpa, que o líder nas pesquisas dispute a eleição presidenci­al.

Do lado dos adversário­s, registra-se com frequência uma fúria persecutór­ia que tampouco terá exigido o conhecimen­to detalhado das circunstân­cias em que o julgamento se baseou.

Os fatos, na sua minúcia e complexida­de, resistem de todo modo às tentativas da defesa no sentido de inocentar o ex-presidente.

Não faria sentido, com efeito, que o presidente de uma grande construtor­a atuasse como simples corretor de imóveis na venda de um apartament­o em Guarujá. Muito menos que alguém, sem se julgar dono do apartament­o, dispusesse sobre sua reforma.

Evidente, por outro lado, o peso de Lula na nomeação de diretores da Petrobras. Difícil crer, pois, que desconhece­sse por inteiro o esquema instalado na empresa.

Não, a máscara de vítima não convence. A popularida­de e a liderança de Lula não o colocam acima da lei. Ainda que a disputa eleitoral deste ano possa empobrecer-se na eventual ausência de sua candidatur­a, é a democracia, mais uma vez, que se fortalece. BRASÍLIA -

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