Pesquisa revela imediatismo brasileiro
População tende a rejeitar sacrifício no presente, mostra cálculo inédito feito a partir de levantamento do Datafolha
Para Ricardo Brito, do Insper, resultado indica que pode ser necessário ‘paternalismo libertário’ para gerar poupança
O brasileiro é imediatista e tem baixíssima tendência à poupança, mostram cálculos inéditos feitos a partir de levantamento do Datafolha.
Eles medem o excesso de peso dado ao presente —o que os economistas chamam de “present bias”, ou, em termos simples, imediatismo.
O resultado do estudo é relevante para a formulação de políticas públicas, porque indica a resistência das pessoas a abrir mão de consumo no presente em troca de poupar e elevar recursos no futuro.
O levantamento mostra ainda que 65% não poupam para o futuro —mesmo entre os mais ricos, cerca da metade não faz reservas.
Uma explicação é que há pouco incentivo para poupar porque aposentadoria e FGTS repõem ou superam a renda atual na maior parte dos casos, segundo o professor do Insper Ricardo Brito, especi-
Como estimar o imediatismo, que pode causar baixa poupança
Se pudesse escolher entre R$ 100 agora ou uma quantia de dinheiro daqui a um ano, qual deveria ser esse valor para que esperasse? Mediana: R$ 500 BETAS DE OUTROS PAÍSES Como o Brasil se compara a outros países* alizado em finanças e decisões de poupança.
O problema é que a reforma da Previdência deve reduzir benefícios e adiar sua obtenção, elevando a importância da poupança particular e voluntária. E o estudo mostra o brasileiro despreparado para isso, seja por ignorância, seja por imediatismo.
A “paciência” do brasileiro é de 0,26 (veja ao lado como o índice é calculado), número que mostra “imediatismo exacerbado”, segundo Brito —que coordenou o estudo a partir dos dados da pesquisa do Datafolha.
O índice tem como base apenas respostas que faziam sentido do ponto de vista lógico e financeiro —70% dos quase 6.000 entrevistados em duas baterias não revelaram conhecimento financeiro suficiente para isso.
“É um índice muito baixo, por qualquer ângulo de análise”, afirma o economista.
Em 2011, pesquisadores da Alemanha e da Suíça compararam o imediatismo em 45 países. O menor resultado encontrado foi o da Rússia: 0,21.
O 0,26 obtido agora para o Brasil é menos da metade da média latino-americana.