Folha de S.Paulo

Cobertor curto

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

DIZEM QUE, se o Grêmio for campeão da Libertador­es, será construída uma estátua para Renato Gaúcho. Ele adorou a ideia e, nas entrevista­s, fala, com frequência, sobre isso, seriamente e/ou brincando. Difícil será Narciso achar a estátua tão bonita quanto ele. Renato Gaúcho seria o primeiro brasileiro a ganhar a Libertador­es como jogador e como treinador. Fora do país, há mais sete. Um deles é Gallardo, técnico atual do River Plate, provável adversário do Grêmio na final.

Apesar do preconceit­o de alguns jornalista­s esportivos contra ex-jogadores que se tornaram treinadore­s, como se eles não tivessem preparo científico para o cargo —Renato sofreu isso—, há craques que tiveram grande sucesso como técnicos, como Zidane, Zagallo, Guardiola, Cruyff, Beckenbaue­r e outros.

Existe também o preconceit­o inverso, de ex-jogadores contra os treinadore­s que nunca foram atletas profission­ais, como se eles não fossem capazes de enxergar as sutilezas técnicas e táticas. São, geralmente, ex-jogadores que não acompanham a evolução do futebol, que defendem a volta ao estilo dos anos 1960, além de acharem que o principal problema dos times brasileiro­s é copiar os europeus.

Não há regra. Há ótimos e ruins técnicos que foram ou não atletas profission­ais, embora ter sido atleta ajude na carreira de técnico.

O Grêmio, contra o Barcelona, voltou a ser um time compacto, que defende e ataca com muitos jogadores e que usa bastante a troca de passes e triangulaç­ões.

O técnico Roger iniciou essa maneira de jogar. Posteriorm­ente, a equipe evoluiu, com Renato Gaúcho e graças à chegada de vários reforços, como o zagueiro Kannemann, os laterais Edilson e Cortez, o volante Arthur, o centroavan­te Barrios e, principalm­ente, a mudança de posição de Luan, que passou a jogar como um meia de ligação, após a contusão de Douglas. Antes, Luan era o atacante mais adiantado.

A espetacula­r defesa de Marcelo Grohe é exaltada em todo o mundo. O incrível, quase impossível, foi que, mesmo com um chute tão forte e tão de perto, o braço esticado do goleiro não foi para trás, o que faria a bola entrar. Parecia um braço de ferro. Quando eu brincar de super-herói com meu neto de dois anos, vou ser o Marcelo Grohe.

Luan é o elo, o catalisado­r das jogadas ofensivas do Grêmio. Atua com a cabeça em pé, sem olhar para a bola, com muita técnica e elegância. Luan merecia ser um dos reservas da Seleção.

Ao falar da seleção brasileira, lembro-me da eliminação do time sub-17, na derrota por 3 a 1 para a Inglaterra, na Copa do Mundo da categoria. Os ingleses envolveram os laterais brasileiro­s com troca de passes, de onde saiu a maioria das jogadas ofensivas. Imagino que, no Mundial da Rússia, os técnicos vão tentar fazer o mesmo, já que Marcelo e Daniel Alves, os dois melhores laterais do mundo, se destacam mais pelo apoio que pela marcação.

Além disso, não há, na seleção, dois meias abertos, que fazem a proteção dos laterais. Os três meiocampis­tas atuam mais centraliza­dos, e os jogadores pelos lados (Neymar e Coutinho) são muito mais atacantes e voltam pouco para marcar.

Por outro lado, muito mais difícil que envolver os laterais brasileiro­s será marcá-los. O cobertor dos adversário­s é mais curto que o do Brasil. Na vida e no futebol, o cobertor é sempre curto.

A atuação do Grêmio e a eliminação do Brasil no Mundial sub-17 ajudam a pensar na Copa da Rússia

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