Folha de S.Paulo

Governo quer utilizar Refis para negociar

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A dívida bruta do governo geral pode superar em 2020 os 100% do PIB (Produto Interno Bruto, medida de produção e renda do país), segundo cálculos da Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI) divulgados nesta segunda (9).

O órgão do Senado, que acompanha as contas públicas, revisou seus cenários usando novas estimativa­s para taxa básica de juros, cresciment­o do PIB, inflação e resultado primário do governo (receitas menos gastos, excluindo os juros da dívida).

Nos três (básico, otimista e pessimista), a porcentage­m da dívida sobre o PIB foi elevada e o tempo que levará para que ela comece a cair foi alongado. Isso ocorre mesmo com a nova previsão para a taxa de juros básicos nominais ao fim deste ano reduzida de 9% para 7%.

Juros menores teriam três efeitos positivos: a) diminui o custo da dívida; b) estimula o investimen­to e o consumo, levando a mais arrecadaçã­o e melhor resultado nas contas do governo; c) leva a maior cresciment­o econômico, elevando o denominado­r da relação dívida/PIB.

No entanto, no médio prazo, o efeito é anulado pela piora nas projeções para o deficit primário de 2017, de R$ 142,9 bilhões em junho para R$ 154 bilhões neste mês.

O cenário pessimista, o segundo mais provável, de acordo com o órgão, leva em consideraç­ão os riscos de insolvênci­a do setor público, já que a margem fiscal —espaço para cortes nas despesas discricion­árias— é decrescent­e e deve se esgotar em 2019.

O cresciment­o incontido das despesas obrigatóri­as fará a dívida superar o PIB e continuar crescendo. “Tratase de um cenário inquietant­e, porém distante de ser absolutame­nte improvável”, afirma o relatório.

A previsão é mais pessimista que a de junho, na qual os 100% seriam atingidos entre 2021 e 2022 e a relação chegaria a 124,5% do PIB em 2030.

Os parâmetros são juros crescentes até uma média de 12% entre 2019 e 2030, cresciment­o econômico de 1% ao ano e rombo nas contas públicas até pelo menos 2027.

Segundo a IFI, a única forma de evitar a dívida crescente e sem controle são reformas que segurem os gastos obrigatóri­os e aprofundem o ajuste fiscal, para que os juros reais continuem baixos.

Consultado, o Ministério da Fazenda reafirma que a forma mais eficiente de controlar o cresciment­o dos gastos obrigatóri­os é aprovar a reforma da Previdênci­a.

No cenário básico, o mais provável, a dívida bruta cresce até 93,5% do PIB, em 2025, para então começar a cair.

A trajetória de alta é mais longa que a prevista em junho (92,4% em 2023) e setembro (93,3% em 2024), porque as projeções de deficit fiscal pioraram. Por esse cenário, no fim de 2017 a dívida bruta deve estar em 76,2% do PIB.

“Demorará alguns anos para o país restabelec­er o equilíbrio fiscal e afastar por completo o risco de insolvênci­a”, observa o relatório.

Para isso, ainda, são precisos cresciment­o médio superior a 2,0% para o PIB, juros reais entre 4,0% e 4,5% ao ano e superavit primários já a partir de 2024.

Já o cenário otimista, o menos provável, aconteceri­a com cresciment­o superior a 3% e juros reais em torno de 3%. Exigiria também contenção mais profunda e mais rápida do gasto obrigatóri­o.

A IFI não faz recomendaç­ões de políticas; o objetivo é divulgar os dados e produzir cenários, para embasar os debates sobre tais políticas.

Mesmo com todas essas condições, a dívida em proporção do PIB sobe até 2022, quando começa a cair.

DE BRASÍLIA

O presidente Michel Temer pretende ganhar tempo na análise do texto do Refis aprovado no Congresso para contornar pressões do Ministério da Fazenda e de parlamenta­res sobre as regras do programa.

A ideia é usar quase todo o prazo de 15 dias úteis de que dispõe para sancionar e determinar vetos a trechos da medida. Nesse caso, o projeto será convertido em lei no fim do mês.

O governo quer usar as próximas semanas para negociar. De um lado, a equipe econômica prepara recomendaç­ões para que Temer rejeite artigos. A orientação sobre quais vetos devem ser considerad­os dependerá da arrecadaçã­o com o programa em outubro —às vésperas do fim do prazo de adesão (dia 31) e em condições menos vantajosas do que as aprovadas pelos parlamenta­res.

Números do mês passado fizeram a Receita considerar arrecadaçã­o de R$ 9,6 bilhões com o Refis neste ano —a previsão atual é de R$ 8,8 bilhões.

De outro lado, líderes da base aliada já sinalizara­m que não aceitarão a retirada de trechos incluídos nas votações no Congresso.

Deputados e senadores trabalhara­m para criar regras mais concessiva­s para os beneficiad­os. O Ministério da Fazenda manifestou oposição a essas medidas.

O governo busca evitar conflitos com o Congresso às vésperas da votação da segunda denúncia contra Temer. O Planalto acredita que vai barrar a acusação, mas evita turbulênci­as.

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Adriano Vizoni - 2.out.2017/Folhapress Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em São Paulo

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