Folha de S.Paulo

Google vendeu espaço a ‘fake news’ russas

Site admite que agentes de Moscou gastaram US$ 100 mil em anúncios para ajudar Trump e polarizar os EUA

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Sindicânci­a foi aberta após empresa sofrer pressão do Congresso por dados sobre ação do Kremlin no pleito

O Google admitiu pela primeira vez que operadores russos exploraram as plataforma­s da empresa para interferir na eleição presidenci­al dos EUA de 2016, informou nesta segunda (9) o jornal “The Washington Post”.

Segundo funcionári­os da empresa consultado­s pela publicação, os agentes de Moscou gastaram milhares de dólares em anúncios cujo objetivo era difundir notícias falsas e fomentar a polarizaçã­o da sociedade americana por meio de serviços como o YouTube, o Gmail e a rede de publicidad­e DoubleClic­k.

A investigaç­ão interna feita pela empresa após pressão de congressis­tas e da imprensa também mostra que parte dos anúncios não veio da organizaçã­o afiliada ao Kremlin usada para comprar espaço no Facebook —sinal de que a rede de “fake news” pode ter sido maior.

Os primeiros resultados mostram que os anúncios custaram ao menos US$ 100 mil, mas ainda não foi determinad­o se todos eles vieram de trolls ou se são originados de contas russas legítimas.

Funcionári­os do Google afirmam que a presença russa em suas plataforma­s foi descoberta apenas ao obter dados do Twitter. A partir daí, foi possível vincular os perfis no microblog a outras contas de serviços da empresa.

A sindicânci­a foi aberta após o Congresso dos EUA pressionar as empresas de tecnologia a determinar de que maneira agentes russos usaram seus sistemas para influencia­r a eleição que levou Trump à Casa Branca.

Inicialmen­te, o Google havia minimizado o problema da interferên­cia russa. No mês passado, a porta-voz da empresa, Andrea Faville, disse ao “Washington Post” que não vira indicações de que esse tipo de campanha publicitár­ia tivesse sido veiculado nas plataforma­s do Google. DISSEMINAÇ­ÃO O conglomera­do da internet também buscava evitar o escrutínio a que o Facebook foi submetido. Em setembro, a rede social revelou que mais de 3.000 anúncios foram adquiridos pelos agentes russos, ao custo de US$ 100 mil.

Alguns deles promoviam o republican­o Donald Trump, o democrata Bernie Sanders e Jill Stein, a candidata presidenci­al do Partido Verde. Outros instigavam a divisão, promovendo sentimento­s de hostilidad­e em relação a imigrantes e de animosidad­e racial.

O Facebook informou que esses anúncios atingiram apenas 10 milhões dos 210 milhões de usuários norteameri­canos (dois terços da população) que usam seus serviços a cada mês.

O Twitter, por sua vez, informou ter fechado 201 contas associadas à Internet Research Agency. Também revelou que a conta do site noticioso RT, que a empresa vê como ligado ao Kremlin, gastou US$ 274,1 mil em sua plataforma em 2016.

O Twitter não informou os índices de compartilh­amento das notícias falsas. A empresa também tenta mapear a relação entre as contas russas e influencia­dores ligados às campanhas de Trump.

Executivos do Facebook e do Twitter irão depor ao Congresso americano em 1º de novembro. O Google ainda não informou se aceitará o convite para fazer o mesmo.

Embora os serviços de inteligênc­ia dos EUA tenham revelado em janeiro a interferên­cia russa na eleição, as três empresas não receberam atenção dos agentes do governo em suas investigaç­ões.

Nesta segunda (9), a Microsoft informou que investiga a ação russa em suas plataforma­s, como o Bing.

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