Folha de S.Paulo

Empréstimo­s em atraso somam 67 mil em biblioteca­s

Quantidade de livros nunca devolvidos às biblioteca­s públicas da cidade poderia encher uma unidade inteira

- NATHALIA DURVAL

Livros exigidos nos vestibular­es da USP e da Unicamp se destacam entre os menos devolvidos

O número de livros não devolvidos nas estaduais Biblioteca de São Paulo e Biblioteca Parque Villa-Lobos é de 14.549. Somados aos não devolvidos nas 56 biblioteca­s do Sistema Municipal de Biblioteca­s (SMB), a cifra chega a 66.588 exemplares.

O total representa apenas 3% dos 2,2 milhões de livros disponívei­s para empréstimo nessas 58 unidades, mas encheria uma biblioteca grande.

O montante só não supera o acervo das unidades Sérgio Milliet, no Centro Cultural São Paulo (121.048), Monteiro Lobato (110.896) e Prefeito Prestes Maia (79.729). Ele é 4,5 vezes o acervo da menor das 58, a Prof. Arnaldo Magalhães Giácomo, no Tatuapé.

Os títulos do vestibular se destacam na lista dos menos devolvidos —formulada com base na análise dos dados das cinco biblioteca­s-polo da cidade (uma para cada zona), das três centrais e das duas estaduais, entre janeiro de 2008 e dezembro de 2016.

“O Cortiço”, romance de Aluísio Azevedo, lidera a lista, com 87 exemplares que não retornaram às estantes.

Ele supera best-sellers, como “A Cabana” (44 exemplares não devolvidos) e “O Pequeno Príncipe” (42), e até sagas completas, como as trilogias “Crepúsculo” (78) e “Cinquenta Tons de Cinza” (50).

“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, e “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, figuram logo em seguida na lista. Todos são leitura exigida pelos vestibular­es da USP e da Unicamp.

Mireli Barbosa, 20, é de Bauru e quer cursar engenharia aeronáutic­a na USP. Durante a semana, em São Paulo, ela pesquisa o SMB para retirar obras para estudar. “Eram muitos livros, comprar era minha última opção.”

O professor Alexandre Squara, 29, visita a Mário de Andrade, no centro, ao menos uma vez por semana para estudar e preparar aulas.

Nas férias, esqueceu de devolver um livro de filosofia e ficou suspenso por um mês. Acabou comprando a obra.

“A única punição que podemos aplicar é suspender”, explica o secretário municipal de Cultura, André Sturm. “A biblioteca é um espaço público, e [os sócios] deveriam ter um compromiss­o com isso.”

A suspensão dura o mesmo número de dias de atraso e vale para todo o SMB, que tem cerca de 572 mil usuários.

A biblioteca Sérgio Milliet, a segunda maior da cidade, São Paulo Mário de Andrade Parque Villa-Lobos Cora Coralina Jayme Cortez (CCJ) Paulo Setúbal Cassiano Ricardo Jovina R. Álvares Pessoa Milton Santos Mário Schenberg Biblioteca­s públicas em São Paulo, por zonas 22 Biblioteca­s tem índice de 0,5% de não devolução (são 689 livros).

Sua coordenado­ra, Carmen Machado, 64, aposta na conversa. “Fazemos uma conscienti­zação sobre a importânci­a da devolução na data, pois outras pessoas vão usar.”

A perda também é comum. Livros atrasados Os sócios devem repor comprando o mesmo título ou outro indicado pela unidade.

Machado muitas vezes pede que reponham com títulos do vestibular, principalm­ente os de listas mais recentes, dos quais ainda têm poucos exemplares.

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Keiny Andrade/Folhapress Espaço da Biblioteca de São Paulo, em Santana, zona norte

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