Folha de S.Paulo

Estuprador­es usam aplicativo­s para atacar

Mulheres relatam crimes sexuais após aproximaçã­o por apps de namoro; vergonha e medo agravam subnotific­ação

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Tinder não comenta; Happn orienta usuário a marcar encontro em local público e a manter familiares informados

mero de usuários (10 milhões) da plataforma no mundo.

O Happn afirma que a segurança do usuário é “prioridade” da empresa. Lançado em 2015 no Brasil, tem 5,4 milhões de usuários no país.

“Incentivam­os que as pessoas sigam precauções de segurança ao conhecer alguém, incluindo se encontrar em lugar público e manter família e amigos informados”, diz o Happn, que também afirma estar à disposição das autoridade­s para investigaç­ões.

A advogada criminalis­ta Roselle Soglio, especialis­ta em perícias criminais, explica que as penas em casos de violência sexual variam de acordo com o enquadrame­nto do caso e podem chegar a 12 anos de prisão, segundo o Código Penal. “Em todos eles a lei determina reclusão. Não há penas alternativ­as”, diz. PROVAS Em Manaus, a pedagoga Mariana (nome fictício), 26, também diz que foi estuprada depois de ter saído com um rapaz (militar) que conheceu pelo Tinder. Assim como Cristina, Mariana não foi prestar queixa na delegacia.

“O rapaz que me estuprou sabia que não tinha como denunciá-lo. Ninguém ia acreditar em mim. Eu não tinha provas. Só as marcas no meu corpo”, afirmou à Folha.

Mariana contou que o homem a levou para jantar em um apartament­o que dividia com um casal de amigos. Depois de comerem, Mariana disse ter transado com o rapaz no quarto dele.

“Foi então que eu pedi um remédio para dor muscular. Ele voltou da cozinha com um copo de água e uma pílula. Tomei e em menos de 10 minutos apaguei. Só lembro de acordar com dores no ânus e marcas de mordidas nas costas e na bunda”, disse.

A pedagoga contou que, zonza, começou a chorar e a se vestir. “‘Deixa eu vestir você, bebê. Você pode se machucar’, ele dizia para mim.”

Com ânsia de vômito, ela afirmou que começou a chorar mais alto e comunicou o rapaz que pediria um táxi.

Ele não deixou e pegou uma arma na gaveta, com a qual fez sinal de silêncio, já que a pedagoga estava fazendo muito barulho e poderia acordar os outros amigos no outro quarto do imóvel.

“Ele colocou a arma na bermuda e me levou para casa. No elevador, ficou segurando minha cabeça contra o peito dele e me beijando na testa enquanto eu chorava”, afirmou Mariana. “Chorei não por tristeza, ou medo. Foi de ódio. Ele me estuprou porque realmente queria. Não tem nada a ver com sexo.”

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