Sabrina Sato,
Depois de morar em Paris e fazer turnês pelo mundo, Rogéria nos últimos anos montou quartel-general num apartamento no Leme.
Passeava toda tarde pelo bairro carioca, sempre escondendo o cabelo (se orgulhava de há seis décadas não precisar usar peruca), para não ser reconhecida e parada a cada dois passos. Ia ao Boteco do Gato onde discutia futebol com os presentes. Fazia campanhas publicitárias e aparições como ela mesma em novelas e filmes.
Namorou até o fim. “Saí com um menino liiiindo, novinho, mas que olhava para mim na cama e dizia ‘Não acredito que estou com Rogéria’. Mandei embora”, contou à Folha no lançamento da sua biografia, em 2016.
Se o ativismo contemporâneo torcia o nariz para essa artista que não dominava uma terminologia que surgiu após seu sucesso, com palavras como transexual e cisgênero (quem se identifica com o gênero de nascença), ela fez as pazes com esse grupo nos últimos anos. “Os ativistas são muito importantes. Eu adoro que eles existam, e defendo até o fim. Mas não é a minha. Eu vim para divertir.”
Mas a arte de Rogéria tinha um fundo de transgressão e, logo, de mudança.
Um ano atrás, foi questionada pela Folha sobre um eventual medo de morrer. Ela respondeu: “Meu amor, eu vivi mais do que qualquer outra. Mais e melhor.” Um dado que Rogéria talvez não soubesse na teoria, mas expressava na prática. A expectativa de vida de uma travesti ou pessoa trans no Brasil é estimada em 35 anos. apresentadora