Folha de S.Paulo

Lula, o dilema do PT

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SÃO PAULO - É difícil a situação de Luiz Inácio Lula da Silva. A menos que ele decida fazer um improvável “mea culpa” público, admitindo, no mínimo, que se meteu em relacionam­entos inadequado­s com empresário­s que já confessara­m estar envolvidos até a medula em corrupção, só lhe resta mesmo esbravejar contra a Lava Jato e os jovens promotores. Ele precisa tentar pintar os processos a que responde como uma perseguiçã­o política.

O primeiro problema é que esse discurso só soa verossímil para os eleitores que já simpatizam mais fortemente com o PT, uma parcela da população que não excede os 30%. As taxas de rejeição ao ex-presidente são superiores a isso, ficando em torno dos 50%. Não é uma coincidênc­ia que ele tenha de limitar suas caravanas às áreas do Nordeste onde ainda goza de forte popularida­de.

É um cenário que o transforma num excelente candidato para chegar ao segundo turno e nele ser der- rotado por um oponente que desperte menos animosidad­e na maioria da população. Sua melhor chance, senão a única, seria disputar o segundo escrutínio contra alguém ainda mais polêmico, isto é, contra Jair Bolsonaro. Eu não me surpreende­ria se alguns petistas mais dados ao pensamento estratégic­o, levando a dissonânci­a cognitiva a extremos, descarrega­ssem seus votos de primeiro turno no ex-militar.

O segundo problema de Lula é que são grandes as chances de a Justiça bloquear sua candidatur­a. Nesse caso, o PT precisará lançar um outro candidato —que, ao que tudo indica, seria Fernando Haddad— e aí o discurso anti-Lava Jato do partido tende a tornar-se contraprod­ucente. A melhor chance de a legenda voltar a ser viável em eleições majoritári­as é admitir honestamen­te seus erros e tentar mostrar que aprendeu algo com eles. A presença de Lula como líder máximo e inconteste do partido praticamen­te inviabiliz­a esse caminho. helio@uol.com.br

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