Folha de S.Paulo

Nova denúncia deve ter obstrução como foco

Procurador-geral pediu para deslocar investigaç­ão sobre organizaçã­o criminosa, que poderia integrar acusação

- REYNALDO TUROLLO JR.

Solicitaçã­o a Edson Fachin é de incluir Temer em outra apuração no STF sobre PMDB da Câmara

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, definiu sua estratégia para apresentar ao STF (Supremo Tribunal Federal) uma nova denúncia contra Michel Temer. O presidente deverá ser denunciado somente sob acusação de obstrução da Justiça.

O primeiro passo foi dado nesta quarta (2). Janot pediu ao ministro Edson Fachin, relator do caso, para deslocar a investigaç­ão sobre organizaçã­o criminosa do inquérito da JBS para outro, que investiga o chamado PMDB da Câmara.

Com a medida, o inquérito derivado da JBS deverá gerar denúncia pelo único crime que continua em apuração ali, o de obstrução da Justiça.

O inquérito da JBS, aberto em maio, trazia indícios de que Temer cometeu os crimes de corrupção passiva (a mala de dinheiro), obstrução da Justiça (o aval para a compra do silêncio de Eduardo Cunha e do doleiro Lucio Funaro) e organizaçã­o criminosa.

Em junho, a PGR apresentou a primeira denúncia contra o presidente sob acusação de corrupção passiva —caso analisado pela Câmara dos Deputados nesta quarta.

A denúncia de corrupção passou para um novo processo no STF, e o inquérito original prosseguiu para investigar obstrução e envolvimen­to em organizaçã­o criminosa.

Desse modo, o inquérito derivado da JBS deverá gerar uma denúncia somente pelo crime que continua ali, o de obstrução da Justiça.

Segundo a Folha apurou, nos últimos dias, a expectativ­a dos procurador­es era a de que não haveria tempo hábil, até a saída de Janot da PGR, em 17 de setembro, para incluir na nova denúncia a acusação de participaç­ão em organizaçã­o criminosa. ‘QUADRILHÃO’ O inquérito que apura o PMDB da Câmara traz indícios de que o grupo atuou como uma organizaçã­o criminosa que lesou a Petrobras e a Caixa Econômica Federal.

A suspeita é que Temer, que era deputado federal até assumir a Vice-Presidênci­a, em 2011, participav­a dos esquemas desse grupo.

Esse inquérito foi instaurado em outubro do ano passado, após uma cisão do “inquérito-mãe” da Lava Jato, que apurava o loteamento de cargos na direção da Petrobras por três partidos principais: PP, PT e PMDB.

A parte do PMDB virou dois inquéritos: um do Senado e outro, da Câmara. Com informaçõe­s obtidas por diferentes operações da Polícia Federal, como a Sépsis e a Cui Bono, a investigaç­ão sobre o PMDB da Câmara expandiu seu foco da Petrobras para a Caixa.

Segundo um resumo do inquérito feito em junho pelo delegado Marlon Cajado, a PF reuniu indícios de que, assim como indicava o diretor da área Internacio­nal da Petrobras, o PMDB da Câmara indicava vice-presidente­s da Caixa que “vendiam facilidade­s” a grandes empresas que buscavam empréstimo­s em troca de propina.

A propina iria para políticos do grupo, como o ex-deputado Cunha (PMDB-RJ), passando pelo corretor de valores Lúcio Funaro, apontado como o principal operador financeiro do esquema.

Nesse inquérito são investigad­as 15 pessoas, como Cunha, Funaro e o ex-deputados Henrique Alves (PMDBRN). Se Edson Fachin aceitar o pedido de Janot, esse inquérito deve prosseguir, sem prazo, agora com Temer formalment­e investigad­o.

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