Folha de S.Paulo

Maduro e oposição trocam acusações antes de Constituin­te

A uma semana de votação na Venezuela, opositores prometem redobrar protestos; governo rejeita pressão

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Após quatro meses de marchas que deixaram mais de cem mortos, país entra em semana decisiva sob tensão

A uma semana da votação para escolher uma assembleia para reformar a Constituiç­ão da Venezuela, governo e oposição voltaram a trocar acusações neste domingo (23). Enquanto opositores falam em boicote e convocam uma nova greve, o presidente Nicolás Maduro reitera que a votação acontecerá independen­temente de críticas.

Depois que parlamenta­res da oposição anunciaram uma paralisaçã­o de dois dias, Maduro rejeitou a pressão interna e externa e disse, no domingo (23), que não vai ceder às ameaças de sanções internacio­nais.

“A direita imperial acredita que pode dar ordens à Venezuela, os únicos que dão ordens aqui são as pessoas”, disse Maduro, em seu programa de TV semanal, em referência ao posicionam­ento crítico dos Estados Unidos.

“Exijo que a oposição tenha um pouco de honra e que respeite o direito do povo a votar livremente (...) sem violência”, disse o presidente.

Em resposta, a oposição prometeu aumentar os protestos contra o governo nos próximos dias.

“Não é o momento de se render nem de se assustar. Estamos nas horas decisivas e de definição para o futuro do país”, disse o deputado Freddy Guevara, representa­ndo a coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrátic­a).

Redobrando a pressão contra a Constituin­te, a oposição convocou uma greve de 48 horas na quarta e na quinta.

FREDDY GUEVARA

líder da oposição

NICOLÁS MADURO

presidente da Venezuela Mais de 350 sindicatos aderiram ao chamado.

A MUD convocou, além disso, uma grande marcha em Caracas na sexta-feira (28), na última tentativa de fazer com que Maduro desista de realizar a eleição dos 545 membros da Constituin­te.

Se a eleição acontecer, disse, a oposição se preparará para um “boicote cívico, sem armas, sem violência, mas com determinaç­ão. Não vamos nos deixar escravizar”.

Em seu longo programa de TV, Maduro exortou a oposição a deixar os venezuelan­os votarem em paz, mas também disse que serão criados centros eleitorais especiais para acomodar aqueles que forem bloqueados por “fascistas” em seus locais de votação.

“Não me derrubaram nem vão me derrubar”, disse. “Seremos implacávei­s, se pretendem gerar um processo de violência para tentar impedir o impossível de se impedir.”

O presidente advertiu os opositores contra a indicação de uma Suprema Corte paralela à oficial. “Um por um”, todos os juízes da oposição serão presos, disse.

No sábado, agentes serviço secreto venezuelan­o detiveram Ángel Zerpa Aponte, um dos 33 juízes apontados para substituir os atuais integrante­s do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ).

A indicação dos juízes, não reconhecid­a pelo TSJ, foi um gesto da oposição para aumentar a pressão contra o governo o plebiscito informal contra Constituin­te que será realizada no domingo (30).

A oposição tem protestado desde abril contra o governo. Mais de 100 pessoas morreram no processo e centenas foram feridas e presas. Maduro lança versão de ‘Despacito’ sobre Constituin­te; assista folha.com/no1903750

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Não me derrubaram nem vão me derrubar

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Reuters Nicolás Maduro apresenta programa na TV venezuelan­a

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