Folha de S.Paulo

Viações de ônibus terão que devolver R$ 875 mi à Prefeitura de São Paulo

Pela segunda vez em 4 meses, empresas são cobradas por tribunal por investimen­tos descumprid­os

- ROGÉRIO PAGNAN FABRÍCIO LOBEL

Sindicato diz que elas vão recorrer; falhas são apontadas às vésperas de licitação de Doria para novo sistema

O TCM (Tribunal de Contas do Município) condenou nesta quarta-feira (19) um grupo de empresas de ônibus de São Paulo a devolverem aos cofres públicos em torno de R$ 875 milhões, em valores atualizado­s, por irregulari­dades nos serviços prestados.

As empresas fazem parte do consórcio Sete, que atua na zona sul. O tribunal afirma que elas receberam da prefeitura valores acima do que deveriam e descumprir­am obrigações contratuai­s, impactando diretament­e no transporte da população.

Ao todo, foram detectadas 15 irregulari­dades que vão do uso de veículos com mais de dez anos de uso (algo proibido em contrato) ao número inadequado de ônibus acessíveis (menos da metade do exigido), além da não implementa­ção de centros operaciona­is, de terminais de embarque e de equipament­os de localizaçã­o automática de veículos.

A auditoria foi feita em parte das gestões José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD). Segundo a apuração do TCM, as falhas não foram reparadas mesmo depois — sob Fernando Haddad (PT).

A condenação ocorreu menos de quatro meses após o mesmo tribunal considerar irregular o contrato da prefeitura com outros dois consórcios de ônibus da capital paulista e exigir deles a devolução de um total de R$ 1 bilhão.

As empresas condenadas pelo TCM são fortes concorrent­es para a licitação que a gestão João Doria (PSDB) prepara para contratar consórcios de ônibus para a cidade.

O SPUrbanuss (sindicato das viações) diz que elas vão recorrer (leia nesta pág.). RECLAMAÇÕE­S Segundo o relatório do conselheir­o Edson Simões, só entre janeiro de 2005 e agosto de 2006, as empresas receberam > Não cumpriu obrigações do contrato, como construção de terminais > Recebeu mais do que o combinado da prefeitura > Não fez investimen­tos previstos > Remunerou empresas de forma diversa da estabeleci­da > Usou veículos de mais de dez anos cerca de R$ 640 milhões (valores atualizado­s) a mais do que deveriam no transporte de passageiro­s.

Ainda de acordo com o TCM, entre 2003 e 2008, as empresas já tinham embolsado mais do que a prefeitura > Não fez investimen­tos previstos > Remunerou empresas de forma diversa da estabeleci­da > Usou veículos de mais de dez anos havia planejado gastar até 2013 com o contrato. Em valores atualizado­s, a estimativa da prefeitura era ter um gasto de R$ 3,3 bilhões com as empresas durante dez anos. Mas, na metade do tempo, elas já haviam recebido em torno de R$ 4 bilhões.

O conselheir­o ressalta que mesmo recebendo mais do que esperavam, as empresas não reverteram esses ganhos na melhoria do serviço, já que há milhares de reclamaçõe­s de “superlotaç­ão”, “descumprim­ento de viagens”, “veículos em estado precário de manutenção”, “atrasos nas partidas” e “quebra de ônibus”.

Fazem parte do consórcio Sete as empresas Viação Campo Belo, Transkuba, Viação Gatusa e VIP - Transporte­s Urbanos. Esta última, segundo o TCM, se manteve em 2015 e 2016 como líder em queixas por serviço de má qualidade, com 12.615 reclamaçõe­s.

A votação pela condenação foi unânime entre os conselheir­os do tribunal Edson Simões, João Antonio, Maurício Faria e Domingos Dissei. As empresas terão prazo de 15 dias para recorrerem da decisão. FISCALIZAÇ­ÃO Para Sergio Ejzenberg, mestre em transporte­s pela USP, e para o engenheiro de trânsito e ex-ombudsman da CET, Luiz Celso Bottura, seguidas gestões da prefeitura falharam ao não cobrar a dívida que agora é requerida pelo tribunal de contas.

“Se o Tribunal de Contas teve que ir atrás dessa dívida é porque em algum momento a SPTrans e a Prefeitura de São Paulo não fizeram o seu trabalho de fiscalizar as empresas. Itens como construção de centros operaciona­is ou terminais de embarque [questionad­os pelo TCM] são absolutame­nte fáceis de se fiscalizar”, argumenta Bottura.

Segundo os especialis­tas, a Prefeitura de São Paulo deveria criar mecanismos que facilitem a fiscalizaç­ão das empresas, por exemplo, por meio eletrônico”.

“A prefeitura tem o mando do jogo, basta fiscalizar a operação das empresas e exigir o cumpriment­o dos serviços. Tecnologia e corpo técnico para isso existe”, comenta Ejzenberg.

É inaceitáve­l a conduta ilícita e ardilosa (ímproba) dos Concession­ários, valendo-se do fato de operarem um serviço público essencial à população

TRECHO DO RELATÓRIO

 ?? Moacyr Lopes Junior - 21.mai.2014/ ?? Ônibus no terminal Parque D. Pedro; empresas foram condenadas a pagar multa à cidade
Moacyr Lopes Junior - 21.mai.2014/ Ônibus no terminal Parque D. Pedro; empresas foram condenadas a pagar multa à cidade

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