Aprovar uma lei de aborto irrestrita era uma das promessas de campanha de Bachelet
Numa longa sessão que entrou a madrugada, o Senado chileno aprovou, nesta quarta-feira (19), o projeto de lei que vem sendo impulsado pela presidente Michelle Bachelet, 65, há mais de três anos e que regulamenta o aborto em três situações: risco de morte da mãe, má-formação do feto e estupro.
O Chile é um dos países mais restritivos do mundo nesse tema e proíbe o aborto em qualquer situação.
O projeto agora volta à Câmara dos Deputados, onde Bachelet tem maioria, para dirimir os pontos onde não houve acordo por parte do Senado e ser votado.
A expectativa é que os parlamentares ratifiquem a proposta nesta quinta-feira (20).
“Hoje é um dia histórico para a mulher chilena, que ao se encontrar diante dessas situações [risco de vida, máformação do feto ou estupro], poderá escolher a melhor decisão possível”, afirmou a presidente chilena após a votação no Senado. PROMESSAS quando concorreu para o atual mandato, que teve início em 2014. A atual presidente também havia estado à frente do governo entre 2006 e 2010, quando não conseguiu avançar neste assunto.
A falta de apoio político no Congresso tornou-se um entrave desde o princípio da atual gestão.
Além do aborto, Bachelet queria ainda convocar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Carta ao país —a atual é dos anos da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Não houve, porém, consenso, e o projeto já não será mais possível dentro do pouco tempo que resta de seu mandato —as próximas eleições são em 19 de novembro.
Abalada por casos de corrupção envolvendo membros de sua família, Bachelet viu sua popularidade cair para menos de 20% no último ano, inviabilizando as articulações com o Legislativo.
Atualmente, porém, a presidente conseguiu melhorar sua aprovação. Está com 31% e afirmou que, mesmo sem poder substituir a Carta do país, irá buscar aprovar mais reformas na existente, principalmente nos itens referentes à educação, previdência e leis do trabalho.
Cada item sobre o aborto aprovado pelos senadores provocou mais de três horas de debate antes do voto. Também foi aprovada a interrupção de gravidez caso a mãe tenha menos de 14 anos, por enquadrar-se, segundo as avaliações médicas contratadas pelo Legislativo, em uma situação de risco à mãe.
Parlamentares do bloco direitista Chile Vamos, que se opõem à proposta, afirmam que tentarão incluir na lei a figura da “objeção de consciência”, para que médicos que não queiram realizar o procedimento não sejam obrigados a fazê-lo.
Após três horas de debate, a Câmara decidiu continuar a sessão nesta quintafeira, quando deverá acontecer finalmente a votação do projeto em seu último e terceiro trâmite legislativo. (SYLVIA COLOMBO)