Folha de S.Paulo

Epidêmica cegueira

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

O FLAMENGO, contra Grêmio e Cruzeiro, teve mais posse de bola, mas encontrou duas defesas muito organizada­s. O time criou poucas chances de gol. Continua ruim a transição da defesa para o ataque. A esperança de evolução está em um melhor entrosamen­to da dupla Diego e Everton Ribeiro.

Se o técnico do Flamengo fosse Guardiola, o time jogaria com apenas um volante centraliza­do, Diego de um lado, Everton Ribeiro de outro, um centroavan­te e mais dois jogadores abertos. Assim, atua o Manchester City. Não sei se daria certo.

Na derrota em casa para o Grêmio, disseram que o problema havia sido a ausência de Guerrero. Contra o Cruzeiro, ele teve atuação apagada. Quando faz um gol e o time vence, Guerrero, um bom centroavan­te, é bastante elogiado, como ocorre com todos os artilheiro­s. No Brasil, se um zagueiro alto e bom nas bolas aéreas jogasse de centroavan­te, também faria um gol a cada dois ou três jogos, já que a maioria das jogadas ofensivas decorre de cruzamento­s pelo alto.

O Cruzeiro, contra o Flamengo, jogou mais atrás, porém teve mais chances de ganhar. Após sofrer nove gols em três partidas, Mano Menezes prometeu e cumpriu que isso não mais aconteceri­a.Poroutrola­do,muitostorc­edores criticam o técnico por atuar, mesmo em casa, com pouca ousadia.

Continua a discussão se, para vencer, é melhor pressionar, ter a bola, ou recuar para contra-atacar, dar a bola ao adversário. Ganha-se e perdese das duas maneiras. O futebol é muito mais complexo que um clichê.

As grandes equipes europeias evoluíram e usam, em um mesmo jogo, de acordo com o momento, as duas estratégia­s. O Real Madrid é ótimo no contra-ataque e quando pressiona. Corinthian­s e Grêmio são os brasileiro­s que mais se aproximam desse modelo. O Palmeiras, que enfrenta nesta quarta (19) o Flamengo, tem um estilo indefinido, mistura o moderno e o tradiciona­l, a emoção e a razão, que agrada e desagrada.

O Barcelona, influencia­do por Guardiola, tenta sempre ser o protagonis­ta, porém sofre muitos gols e tem mais dificuldad­es de vencer fortes adversário­s. O Manchester City, dirigido por Guardiola, foi eliminado pelo Monaco da Liga dos Campeões porque não se preocupou com a força do ataque do time francês. Guardiola, o mais criativo dos técnicos, também erra. Parece proibido criticá-lo.

Não pense que mudei de lado, que agora morro de amores pelo futebol defensivo. Aprecio mais a beleza do jogo e o estilo mais ousado. Porém, isso não me impede de elogiar e reconhecer os méritos de quem é bom na defesa.

A tendencios­idade atingiu, no Brasil, níveis absurdos em todas as áreas. Um grande número de pessoas enxerga apenas o que quer e/ou o que lhe interessa. O país vive uma epidêmica cegueira. MEIO-CAMPISTAS O futebol brasileiro perdeu, para os europeus, dois jovens de talento, Douglas, do Vasco, e Thiago Maia, do Santos, representa­ntes de um tipo de armador que tinha desapareci­do de nossos estádios. Marcam, avançam com habilidade e criativida­de, têm bom passe e atuam de uma intermediá­ria à outra. Não são volantes nem meias. São meio-campistas. Existem outros, embora os técnicos brasileiro­s continuem dependente­s da formação com dois volantes em linha e um meia de ligação, único responsáve­l por toda a armação de jogadas.

Gostar de algo não significa deixar de elogiar e de reconhecer o que não é espelho

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