Proibições não cessam brigas em estádios
Desde os anos 1990, com o fim do papel picado, cresce a lista de objetos banidos dos campos de futebol
VIOLÊNCIA
A crescente lista de itens proibidos nos estádios não tem evitado cenas de violência entre torcedores no país.
As restrições atuais, segundo organizadores de jogos, são embasadas no Estatuto do Torcedor, de 2003, que no item dois do artigo 13 diz que o torcedor não pode “portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”.
Pela letra da lei, e a depender do humor de quem faz a revista, brinquedos infantis, livros, a cuia de chimarrão dos gaúchos e até o lanche do intervalo não podem passar pela catraca.
Itens óbvios, caso dos objetos que emitem sons ou luzes, além dos sinalizadores e fogos, também não entram.
As enormes bandeiras com mastro e as pesadas chuvas de papel picado, acessórios preferidos dos torcedores durante os anos 1990, estão banidos do futebol, principalmente o paulista, há mais de duas décadas.
Os mastros foram vetados após a morte do menino corintiano Rodrigo de Gásperi, 13, em 1992, atingido na cabeça por uma bomba caseira.
Nunca houve uma condenação pela morte do torcedor, ocorrida após briga no superlotado estádio Nicolau Alayon, na zona oeste da capital, na semifinal entre Corinthians e São Paulo da Copa São Paulo de juniores.
Há exceções às proibições. Na Fonte Nova, na Bahia, por exemplo, torcidas organizadas podem, por ofício, pedir autorização para entrar com bandeiras e instrumentos.
No universo das proibições, a presença de torcida única em clássicos e a venda de bebidas alcoólicas são outros pontos polêmicos.
A cerveja está liberada em Minas Gerais, na Bahia e em Pernambuco.
JÚLIO WILSON DOS SANTOS
pesquisador da Unesp
Antes do Estatuto do Torcedor, proibições já vigoravam nos estádios. Uma resolução de 1985 assinada pelo então secretário de segurança do Estado de São Paulo, Michel Temer, restringia a entrada de torcedores com “papel em rolo de qualquer espécie, jornais e revistas”.
A torcida única, que em São Paulo existe desde abril de 2016 e não tem prazo para acabar, já foi debatida em outros locais, como MG, RJ e PR.
No Rio Grande do Sul há outra iniciativa. Nos jogos recentes entre Grêmio e Internacional houve torcida mista, com seguidores rivais dividindo o mesmo espaço, sem maiores incidentes. MORTES As brigas violentas dentro ou nos arredores dos estádios também continuam.
Levantamento do sociólogo Maurício Murad, da Universidade Salgado de Oliveira, aponta que houve mais de 100 mortes ligadas ao futebol no Brasil desde 2010 —10% delas dentro de estádios.
“A proibição de alegorias evidentemente não é solução de nada. Alcança no máximo as consequências e não as causas da violência”, diz Murad.
No sábado (8), em São Januário, após derrota do Vasco para o Flamengo (1 a 0), vascaínos entraram em confronto com a polícia e atiraram objetos ao gramado, impedindo a saída do Flamengo.
Na rua, após o clássico, um vascaíno morreu atingido por um tiro. Testemunhas dizem que a confusão foi entre a torcida do Vasco e a polícia.
Foi registrado, em 24 de junho, um confronto entre torcedores do Goiás e do Vila Nova-GO, em jogo disputado no Serra Dourada.
Antes da partida, um torcedor do Goiás foi assassinado do lado de fora do estádio.
“As proibições que acabam matando a cultura das arquibancadas são paliativas, elas não estão resolvendo a questão da violência”, afirma Júlio Wilson dos Santos, professor da Faculdade de Educação Física da Unesp em Bauru e pesquisador das áreas de futebol e educação.
“É preciso investimento em educação. As pessoas com condições básicas de cidadania vão levar esses conceitos também para as arquibancadas. O que ocorre nesses locais é um reflexo da sociedade. Onde também existe muita impunidade”, completa.
Em jogos da Série A, arenas vetam de bandeiras a chimarrão
Permitido com restrições Não permitido
“
Em algumas coisas, ao menos, evoluímos; hoje não tem mais alambrando com arame farpado e as invasões de campo quase não ocorrem