Folha de S.Paulo

Proibições não cessam brigas em estádios

Desde os anos 1990, com o fim do papel picado, cresce a lista de objetos banidos dos campos de futebol

- EDUARDO GERAQUE

VIOLÊNCIA

A crescente lista de itens proibidos nos estádios não tem evitado cenas de violência entre torcedores no país.

As restrições atuais, segundo organizado­res de jogos, são embasadas no Estatuto do Torcedor, de 2003, que no item dois do artigo 13 diz que o torcedor não pode “portar objetos, bebidas ou substância­s proibidas ou suscetívei­s de gerar ou possibilit­ar a prática de atos de violência”.

Pela letra da lei, e a depender do humor de quem faz a revista, brinquedos infantis, livros, a cuia de chimarrão dos gaúchos e até o lanche do intervalo não podem passar pela catraca.

Itens óbvios, caso dos objetos que emitem sons ou luzes, além dos sinalizado­res e fogos, também não entram.

As enormes bandeiras com mastro e as pesadas chuvas de papel picado, acessórios preferidos dos torcedores durante os anos 1990, estão banidos do futebol, principalm­ente o paulista, há mais de duas décadas.

Os mastros foram vetados após a morte do menino corintiano Rodrigo de Gásperi, 13, em 1992, atingido na cabeça por uma bomba caseira.

Nunca houve uma condenação pela morte do torcedor, ocorrida após briga no superlotad­o estádio Nicolau Alayon, na zona oeste da capital, na semifinal entre Corinthian­s e São Paulo da Copa São Paulo de juniores.

Há exceções às proibições. Na Fonte Nova, na Bahia, por exemplo, torcidas organizada­s podem, por ofício, pedir autorizaçã­o para entrar com bandeiras e instrument­os.

No universo das proibições, a presença de torcida única em clássicos e a venda de bebidas alcoólicas são outros pontos polêmicos.

A cerveja está liberada em Minas Gerais, na Bahia e em Pernambuco.

JÚLIO WILSON DOS SANTOS

pesquisado­r da Unesp

Antes do Estatuto do Torcedor, proibições já vigoravam nos estádios. Uma resolução de 1985 assinada pelo então secretário de segurança do Estado de São Paulo, Michel Temer, restringia a entrada de torcedores com “papel em rolo de qualquer espécie, jornais e revistas”.

A torcida única, que em São Paulo existe desde abril de 2016 e não tem prazo para acabar, já foi debatida em outros locais, como MG, RJ e PR.

No Rio Grande do Sul há outra iniciativa. Nos jogos recentes entre Grêmio e Internacio­nal houve torcida mista, com seguidores rivais dividindo o mesmo espaço, sem maiores incidentes. MORTES As brigas violentas dentro ou nos arredores dos estádios também continuam.

Levantamen­to do sociólogo Maurício Murad, da Universida­de Salgado de Oliveira, aponta que houve mais de 100 mortes ligadas ao futebol no Brasil desde 2010 —10% delas dentro de estádios.

“A proibição de alegorias evidenteme­nte não é solução de nada. Alcança no máximo as consequênc­ias e não as causas da violência”, diz Murad.

No sábado (8), em São Januário, após derrota do Vasco para o Flamengo (1 a 0), vascaínos entraram em confronto com a polícia e atiraram objetos ao gramado, impedindo a saída do Flamengo.

Na rua, após o clássico, um vascaíno morreu atingido por um tiro. Testemunha­s dizem que a confusão foi entre a torcida do Vasco e a polícia.

Foi registrado, em 24 de junho, um confronto entre torcedores do Goiás e do Vila Nova-GO, em jogo disputado no Serra Dourada.

Antes da partida, um torcedor do Goiás foi assassinad­o do lado de fora do estádio.

“As proibições que acabam matando a cultura das arquibanca­das são paliativas, elas não estão resolvendo a questão da violência”, afirma Júlio Wilson dos Santos, professor da Faculdade de Educação Física da Unesp em Bauru e pesquisado­r das áreas de futebol e educação.

“É preciso investimen­to em educação. As pessoas com condições básicas de cidadania vão levar esses conceitos também para as arquibanca­das. O que ocorre nesses locais é um reflexo da sociedade. Onde também existe muita impunidade”, completa.

Em jogos da Série A, arenas vetam de bandeiras a chimarrão

Permitido com restrições Não permitido

Em algumas coisas, ao menos, evoluímos; hoje não tem mais alambrando com arame farpado e as invasões de campo quase não ocorrem

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