Folha de S.Paulo

ENTREVISTA É hora de cientistas assumirem uma posição política

VENCEDOR DO PRÊMIO NOBEL DE QUÍMICA DE 2016 VÊ DESCRÉDITO NA CIÊNCIA COM TEMOR

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Que conselhos daria a eles?

Gostaria de ver mais cientistas na vida política porque chegamos a um ponto no Ocidente em que isso é absolutame­nte necessário. Parece que estamos voltando no tempo.

Há pessoas negando as mudanças climáticas e falando mal da ciência. Isso tem que ser debatido e os argumentos tem de ser contundent­es. Nos EUA há conflitos entre a administra­ção Trump e os cientistas; no Brasil, cortes do orçamento federal para a pesquisa. Por que a ciência perdeu tanto prestígio?

Queria muito saber a resposta. Os cientistas têm de assumir responsabi­lidades. A gente tem escondido a cabeça na terra e não estávamos preparados para essa situação, na qual é necessário deixar nossa posição clara.

Se alguém gosta do que o Donald Trump tuíta todo dia, também podem gostar dos tuítes de Fraser Stoddart. Eu digo “isso aqui é ciência e ela é feita dia após dia”. Acho que Que áreas deveriam ser contemplad­as com o próximo Prêmio Nobel de Química?

Gostaria que o prêmio ficasse com a química, e não com algum aspecto da bioquímica ou da biologia, como foi feito por muitos anos. Penso que as áreas das baterias de ion-lítio ou da energia solar poderiam ser premiadas. Mas eu nunca fui muito bom em prever o futuro: não consegui prever o meu próprio prêmio [risos]. Quais as virtudes de um bom químico?

Digo que não cheguei aonde estou com inspiração na biologia, mas sendo bem treinado em matemática, física, topologia, teoria dos grafos.

Eu queria ver o reconhecim­ento de pessoas que vestem a camisa da química e que mostram do que ela se trata: a criação de seus objetos de estudo por meio de síntese, o que torna o químico parecido com um pintor, um escultor ou um compositor. Nós temos essa caracterís­tica única —somos criadores de coisas.

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