Folha de S.Paulo

O balão de Doria

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Mal completara dois meses à frente da Prefeitura de São Paulo, João Doria (PSDB) passou a ser cogitado para a disputa presidenci­al do próximo ano, em aposta precipitad­a que começa a exibir falhas de sustentaçã­o.

A ascensão do prefeito não se deveu apenas a suas contínuas ações midiáticas, que lhe garantem exposição, por exemplo, quando empunha vassouras e pás fantasiado pelas ruas da cidade.

Ajudou a alçá-lo a onda de investigaç­ões policiais que compromete­u, total ou parcialmen­te, o prestígio e o apelo eleitoral de expoentes tucanos como o senador Aécio Neves (MG) —hoje o caso mais extremo de descrédito na legenda— e o governador Geraldo Alckmin.

Na condição de político —ou gestor, como prefere— não atingido pela Lava Jato, Doria envolve-se progressiv­amente em contendas nacionais, tendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre seus alvos preferenci­ais.

O balão que se inflava para voos nacionais encontrou, entretanto, obstáculos mais provincian­os.

Vereadores aliados se insurgiram contra o que consideram açodamento e falta de diálogo na ofensiva da prefeitura para a concessão de inúmeros serviços públicos à iniciativa privada. O descontent­amento do grupo, que inclui parlamenta­res do próprio PSDB, dificulta a votação de projetos.

Parece sinal de imperícia política que um prefeito recém-consagrado nas urnas consiga alienar simpatias até no núcleo de sua base de sustentaçã­o na Câmara Municipal.

Ademais, o tucano sente os desgastes do cargo. Sua popularida­de oscilou de 44% a 41% entre fevereiro e junho, e a porcentage­m dos que o desaprovam foi de 13% a 22%, de acordo com o Datafolha. Em cenário presidenci­al, apareceu com 9% em abril quando testado como candidato do PSDB —em junho, ficou em 10%. Lula tem 30%.

A excitação do início do ano, como se vê, não levou Doria muito além da divisa municipal, embora seja obviamente cedo para descartar possibilid­ades no pleito de 2018. Até lá haverá tempo, por exemplo, para que sejam apresentad­os resultados mais palpáveis na administra­ção da cidade.

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