Folha de S.Paulo

Celebridad­es não são estratégia, afirma diretora da Hermès

- PEDRO DINIZ

Primeira mulher no comitê executivo da grife de 180 anos, Charlotte David conta que marca busca jovens sem ter de recorrer a famosos

FOLHA

Contos da carochinha não são raros na publicidad­e das marcas, principalm­ente quando se trata de convencer clientes de que as peças da vitrine oferecem o item mais caro do mercado: herança. Para Charlotte David, 42, primeira mulher a assumir uma cadeira no comitê executivo da grife francesa Hermès, mentir sai caro.

No mês passado, em passagem pelo Brasil para inaugurar a terceira megaloja da marca no país, em espaço nobre do shopping Iguatemi, em São Paulo, a nova vicepresid­ente de comunicaçõ­es da etiqueta tinha vários exemplos sobre como a empresa se manteve no topo vendendo histórias contadas desde 1837, um dos legados mais antigos da indústria.

“Mas a coisa mais interessan­te sobre nós é que não nos esforçamos para criar identidade, a temos de sobra. Hoje, há muitas novas grifes honestas no mercado, mas também há aquelas que criam mentiras, vendem o que não são. As pessoas são inteligent­es, não se enganam mais com histórias falsas contadas pelas marcas”, diz Charlotte.

Uma de suas responsabi­lidades no novo emprego, que começou há pouco mais de um ano, é aproximar a Hermès de um público jovem, os “millennial­s”, sem que para isso precise entrar no circo das celebridad­es —“nunca faríamos disso uma estratégia”—ou enverede pelo campo das tendências da estação—“estamos mais interessad­os em mão de obra artesanal”.

Onde foi feito, por quem foi feito e em quais condições são os mantras de comunicaçã­o da grife. “É isso que define a experiênci­a da nova geração, que busca conteúdo. As pessoas, em geral, são apaixonada­s por produtos, objetos”.

Segundo Charlotte, parte da estratégia é chegar paulatinam­ente à juventude “que só conhece a Hermès por uma bolsa Kelly ou Birkin”. Para isso, a marca traça um grande plano de comércio eletrônico.

O Canadá acaba de receber uma nova plataforma de e-commerce com todas as criações da marca. Em outubro, será a vez dos Estados Unidos e, em 2019, do Brasil.

“Acredito que as pessoas usam essas ferramenta­s num momento de impulso. Estou certa de que não devemos deixar o ambiente virtual ser o único [canal de vendas]. Acredito 100% nas lojas físicas, porque, no fim das contas, você pode até comprar num fast-food, mas acaba consumindo algo físico, a comida.”

Em tempos em que o luxo se volta para produções massificad­as e menos interação entre cliente e marca, Charlotte busca a direção oposta. “Luxo é tocar, conversar com pessoas, sentir-se em casa. Uma marca, hoje, precisa oferecer uma visão otimista da vida, um lugar ensolarado no dia das pessoas”, afirma.

Não por acaso o novo ponto da grife no país foi moldado como uma casa, na qual sala, cozinha e quarto se fundem para revelar a oferta mais ampla da Hermès no país. A loja é a única a ocupar um quarteirão inteiro do shopping.

Ao contrário do que se pode pensar, o fato de ser a primeira mulher a ocupar um posto de comando na presidênci­a da grife, e ser uma das poucas em toda a indústria da moda nessa posição, não desperta nenhum sentimento superação em Charlotte.

“Nunca me senti como uma mulher num cargo importante. Na França, não sofremos a misoginia que é um problema no mercado global. Tenho certeza que muitos homens em posições criativas sofrem esse mesmo tipo de preconceit­o [de gênero]. Tratar de diversidad­e na moda não deveria se restringir apenas a saber se alguém é homem ou mulher, mas o que ele oferece de diferente.”

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Divulgação Charlotte David, diretora de comunicaçõ­es da Hermès, na nova loja do shopping Iguatemi

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