Folha de S.Paulo

Plano de corredor de ônibus de Doria exclui norte e centro

Tucano promete construir mais 72 km, mas só nas zonas leste, sul e oeste

- JÚLIA BARBON ANTONIO MAMMI

Pasta diz que escolha considerou ‘projetos básicos já existentes’ e áreas com necessidad­e maior de via exclusiva

Mais de seis meses após o início de sua gestão, o prefeito João Doria (PSDB) definiu uma meta para a construção de corredores de ônibus em São Paulo. Serão 72 quilômetro­s até o final de 2020, concentrad­os nas zonas leste, sul e oeste —um aumento de 30% em relação à malha atual da cidade, de 238 km.

As regiões central e norte e o extremo sul da capital, porém, onde já houve projetos de vias exclusivas em administra­ções passadas, ficaram de fora do plano.

Essas previsões estão descritas na versão final do programa de metas do tucano, documento divulgado nesta segunda-feira (10) que apresenta as prioridade­s e objetivos da gestão municipal.

Os novos corredores (sempre à esquerda das pistas) estão planejados em 11 das 32 prefeitura­s regionais de São Paulo, como Butantã (zona oeste), M’Boi Mirim (sul), Itaquera e São Mateus (leste). Procurada, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transporte­s não deu mais detalhes sobre as vias em que pretende construi-los nem sobre os prazos previstos para obras.

A pasta disse apenas que as metas e regiões foram definidas “consideran­do os projetos básicos já existentes” e “as áreas onde a necessidad­e de exclusivid­ade para o transporte público é maior”.

Para Luiz Celso Bottura, engenheiro de trânsito e exombudsma­n da CET, por enquanto não é possível saber qual é a lógica da prioridade. No geral, afirma, a zona norte é uma região onde é difícil implantar corredores.

“As vias são muito acanhadas, então precisaria de obras muito caras. As zonas sul e leste têm mais demanda. A oeste é uma região mais curta, poderia se pensar num corredor na Raposo Tavares, porque Osasco é muito próxima de São Paulo.”

Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre em transporte­s pela USP, diz que a implantaçã­o também deve ser pensada de acordo com o porte das vias em cada região.

“Corredor você faz onde consegue fazer. Diferentem­ente de metrô, você precisa de avenidas que comportem a instalação. Chega uma hora em que esgota a possibilid­ade física de fazer corredor.” Seria o caso da zona norte, na avaliação dele.

Algumas vias localizada­s nas regiões excluídas do plano de Doria já fizeram parte de planos anteriores para a construção de corredores de ônibus, que acabaram ficando no papel. É o caso das avenidas 23 de Maio (centro), Sumaré (oeste) e Brás Leme (norte).

Os 72 km de corredores prometidos por Doria correspond­em à metade do previsto pelo ex-prefeito Fernando Haddad entre 2013 e 2016.

O petista planejava criar 150 km, mas não concluiu nem um terço disso. Já Gilberto Kassab (PSD, eleito pelo DEM), que tinha um objetivo semelhante ao de Doria, de 66 km, entregou apenas um quinto (11,8 km).

O engenheiro Luiz Celso Bottura afirma que a extensão definida por Doria é suficiente, mas critica as interrupçõ­es entre gestões. “Se houver continuida­de dessa ação, é um bom número. Agora, se cada político que vier mudar de plano, nós nunca vamos sair dessa desgraça”, diz.

“Essa extensão até o final do mandato é suficiente. Mas o que também é muito importante é transforma­r alguns dos nossos corredores em BRTs [corredores rápidos]”, afirma Flamínio Fichmann, consultor de trânsito e transporte.

“De maneira geral, os que são instalados em locais estratégic­os têm velocidade ruim —alguns têm desempenho péssimo, como o da Santo Amaro/Nove de Julho.”

A primeira versão do plano de metas do tucano previa um projeto piloto do “primeiro trecho de corredor de ônibus na modalidade BRT”, propagande­ado pelo prefeito como “Rapidão” na campanha. A ação, no entanto, foi retirada do documento final. Questionad­a pela Folha, a Secretaria de Transporte­s da gestão Doria não respondeu por quê.

A pasta, comandada por Sérgio Avelleda, também não disse qual é a velocidade média dos ônibus que pretende atingir ao final do mandato nem se pronunciou sobre as caracterís­ticas dos novos corredores (se haverá pré-embarque ou faixas para ultrapassa­gem, por exemplo).

Além disso, a administra­ção não explicou a razão para as regiões norte e central terem ficado de fora do plano. Corredores de ônibus, em km Prometidos Concluídos 150

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Movimentaç­ão de passageiro­s no corredor de ônibus da av. Santo Amaro, na zona sul de SP

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