Folha de S.Paulo

Operação se expande, mas Lava Jato paranaense reduz número de fases

Com equipe da PF reorganiza­da, Curitiba se concentra em desdobrame­ntos na Petrobras

- FELIPE BÄCHTOLD

Deltan Dallagnol vê efeito de ‘sufocament­o’ do grupo da PF, que não tem mais atuação exclusiva na operação

A Operação Lava Jato pode derrubar neste ano mais um presidente, mas desta vez os holofotes não estão em Curitiba ou no juiz Sergio Moro.

O núcleo paranaense da investigaç­ão, que deu a partida à Lava Jato em março de 2014, deflagrou menos fases da operação em 2017 em relação a anos anteriores e reduziu a repercussã­o de suas ofensivas.

A tendência coincide com um período de reorganiza­ção da equipe da Polícia Federal que atuava exclusivam­ente no caso. O número de delegados foi reduzido e a equipe anteriorme­nte exclusiva foi incorporad­a a uma delegacia da superinten­dência do Paraná voltada ao combate à corrupção, em medida divulgada na semana passada.

A direção da PF e o delegado que coordena a Lava Jato no Estado, Igor Romário de Paula, negam interferên­cia política ou que a alteração afete os trabalhos de apuração.

Mas os procurador­es da República reclamaram e afirmaram, em nota, que o governo atual reduziu drasticame­nte o efetivo da PF na operação.

Neste ano, foram deflagrada­s quatro fases da Lava Jato “paranaense”, ante nove no primeiro semestre de 2016. Na segunda metade do ano passado, foram sete.

Mais do que o número de operações, mudou também o perfil dos alvos. Enquanto no ano passado a Lava Jato devassou a Odebrecht, maior empreiteir­a brasileira, o patrimônio do ex-presidente Lula, e o financiame­nto do à época principal marqueteir­o do país, João Santana, neste ano os casos são desdobrame­ntos de irregulari­dades na Petrobras levantadas em anos anteriores, como pagamento de propina a ex-executivos.

O valor das irregulari­dades apontadas, porém, continua expressivo —mais de R$ 100 milhões em uma das fases.

As principais decisões de Moro em 2017 são de casos iniciados no ano passado, como condenaçõe­s do ex-deputado Eduardo Cunha e do ex-governador do Rio Sérgio Cabral e a realização do depoimento de Lula em uma ação penal.

A Lava Jato paranaense vem gerando desdobrame­ntos em série pelo país, como as operações relacionad­as a Cabral no Rio e a delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que ameaça tirar do poder o presidente Michel Temer. Esse acordo foi firmado diretament­e no DF, pela Procurador­ia-Geral da República. REFLEXOS O procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa em Curitiba, diz que menos fases não significam necessaria­mente o encolhimen­to da operação e afirma que a intensidad­e do trabalho até aumentou, com mais acordos internacio­nais de cooperação.

Mas sustenta que existe um “sufocament­o” da PF que afeta as operações. “Das últimas seis fases da Lava Jato [no Paraná], a Polícia Federal conseguiu produzir só uma. Isso é um sintoma.”

Ele diz que a diluição de inquéritos entre delegados sem especializ­ação traz prejuízos.

Dallagnol aponta ainda como motivos para o menor número de operações a quantidade de inquéritos que esbarraram em autoridade­s com foro e a dispersão de investigaç­ões para outros Estados.

O delegado Igor Romário de Paula afirmou a jornalista­s na semana passada que a decisão de incorporar os policiais da Lava Jato a uma delegacia específica partiu da própria equipe no Paraná e foi de “caráter operaciona­l”.

Segundo ele, a PF adota com a Lava Jato um “formato de investigaç­ão permanente” e continua como o maior grupo de investigaç­ão do país.

Com os desdobrame­ntos da operação pelo Brasil, diz ele, a PF não tem como deslocar policiais para o Paraná como antes. “Os recursos eram todos direcionad­os para cá [anteriorme­nte]. Hoje os recursos têm que ser compartilh­ados com as unidades prioritári­as, e a gente tem que lidar com o que a gente tem disponível.”

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