Operação se expande, mas Lava Jato paranaense reduz número de fases
Com equipe da PF reorganizada, Curitiba se concentra em desdobramentos na Petrobras
Deltan Dallagnol vê efeito de ‘sufocamento’ do grupo da PF, que não tem mais atuação exclusiva na operação
A Operação Lava Jato pode derrubar neste ano mais um presidente, mas desta vez os holofotes não estão em Curitiba ou no juiz Sergio Moro.
O núcleo paranaense da investigação, que deu a partida à Lava Jato em março de 2014, deflagrou menos fases da operação em 2017 em relação a anos anteriores e reduziu a repercussão de suas ofensivas.
A tendência coincide com um período de reorganização da equipe da Polícia Federal que atuava exclusivamente no caso. O número de delegados foi reduzido e a equipe anteriormente exclusiva foi incorporada a uma delegacia da superintendência do Paraná voltada ao combate à corrupção, em medida divulgada na semana passada.
A direção da PF e o delegado que coordena a Lava Jato no Estado, Igor Romário de Paula, negam interferência política ou que a alteração afete os trabalhos de apuração.
Mas os procuradores da República reclamaram e afirmaram, em nota, que o governo atual reduziu drasticamente o efetivo da PF na operação.
Neste ano, foram deflagradas quatro fases da Lava Jato “paranaense”, ante nove no primeiro semestre de 2016. Na segunda metade do ano passado, foram sete.
Mais do que o número de operações, mudou também o perfil dos alvos. Enquanto no ano passado a Lava Jato devassou a Odebrecht, maior empreiteira brasileira, o patrimônio do ex-presidente Lula, e o financiamento do à época principal marqueteiro do país, João Santana, neste ano os casos são desdobramentos de irregularidades na Petrobras levantadas em anos anteriores, como pagamento de propina a ex-executivos.
O valor das irregularidades apontadas, porém, continua expressivo —mais de R$ 100 milhões em uma das fases.
As principais decisões de Moro em 2017 são de casos iniciados no ano passado, como condenações do ex-deputado Eduardo Cunha e do ex-governador do Rio Sérgio Cabral e a realização do depoimento de Lula em uma ação penal.
A Lava Jato paranaense vem gerando desdobramentos em série pelo país, como as operações relacionadas a Cabral no Rio e a delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que ameaça tirar do poder o presidente Michel Temer. Esse acordo foi firmado diretamente no DF, pela Procuradoria-Geral da República. REFLEXOS O procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa em Curitiba, diz que menos fases não significam necessariamente o encolhimento da operação e afirma que a intensidade do trabalho até aumentou, com mais acordos internacionais de cooperação.
Mas sustenta que existe um “sufocamento” da PF que afeta as operações. “Das últimas seis fases da Lava Jato [no Paraná], a Polícia Federal conseguiu produzir só uma. Isso é um sintoma.”
Ele diz que a diluição de inquéritos entre delegados sem especialização traz prejuízos.
Dallagnol aponta ainda como motivos para o menor número de operações a quantidade de inquéritos que esbarraram em autoridades com foro e a dispersão de investigações para outros Estados.
O delegado Igor Romário de Paula afirmou a jornalistas na semana passada que a decisão de incorporar os policiais da Lava Jato a uma delegacia específica partiu da própria equipe no Paraná e foi de “caráter operacional”.
Segundo ele, a PF adota com a Lava Jato um “formato de investigação permanente” e continua como o maior grupo de investigação do país.
Com os desdobramentos da operação pelo Brasil, diz ele, a PF não tem como deslocar policiais para o Paraná como antes. “Os recursos eram todos direcionados para cá [anteriormente]. Hoje os recursos têm que ser compartilhados com as unidades prioritárias, e a gente tem que lidar com o que a gente tem disponível.”