ANÁLISE Em meio a terapia de grupo, Alckmin dá passo rumo a 2018
Folha
Enquanto o PSDB fazia mais uma sessão de terapia em grupo, Geraldo Alckmin deu mais um passo na construção da candidatura de seu grupo político em 2018 —seja ele ou o prefeito João Doria o postulante tucano à Presidência da República.
Em meio à bruma inócua do vai-não-vai do PSDB em relação ao governo Temer, coube ao presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), dar a notícia: em agosto o partido elege nova Executiva. Isso na casa de Alckmin, em reunião convocada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A ouviu de dirigentes tucanos que tal mudança não é consensual, como aliás quase nada é na sigla. De toda forma, o governador paulista já vinha ocupando o vácuo deixado pela implosão do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), pela Operação Lava Jato.
Na reunião em que a Executiva tucana decidiu permanecer no barco de Temer, Alckmin já havia conduzido boa parte dos trabalhos.
Mas ele não está sozinho na busca pelos espólios. O senador José Serra (SP), antigo desafeto do mineiro e do governador, está se movimentando nos bastidores, confiante de que a acusação que o atingiu na Lava Jato é menor e que ele poderá postular mais espaço decisório —se uma candidatura nacional é descartada por aliados, o Palácio dos Bandeirantes não é tão distante. O quão otimista é a avaliação é outro ponto.
Alckmin busca consolidar sua base de apoio, acenando com responsabilidade fiscal e compromisso com reformas aos governadores apavorados pela perda de recursos federais em caso de desembarque e com um discurso ambíguo de não compromisso com Temer para agradar à ala jovem e rebelde na Câmara.
Aécio ainda tem munição interna para atrapalhar Alckmin, embora o cenário seja favorável ao paulista. Além disso, o paulista terá de com- por com Tasso, com quem se dá bem. O cearense poderá continuar à frente do partido, solução que buscaria poupar a imagem de Aécio.
Isso é só parte do jogo, ganhar a máquina interna é es- sencial para deslanchar uma campanha. O paulista terá de escapar das acusações contra si na Lava Jato, de menor escopo até aqui do que as de Aécio, para começar.
Mais: terá de se mostrar mais viável do que o pupilo Doria em pesquisas. Até aqui, o prefeito tem uma vantagem de saída de não estar na Lava Jato e tem fixado muito mais a imagem de anti-PT.
Contra Doria, há a desconfiança generalizada dos caciques da base aliada, e o adensamento dos problemas práticos de gestão, como o caso dos semáforos inoperantes que paralisam o trânsito na capital paulista.
O governador gostaria de ver Temer na cadeira até o fim, mas a realidade vem se colocando de outra forma, com um eventual governo Rodrigo Maia (DEM) emergindo.
O hoje nanico DEM quer crescer, fazer bancada federal e voltar a ser um parceiro preferencial do campo conservador, embora obviamente a “mosca azul” presidencial tenha poderes inauditos associados à tinta da caneta.
Alckmin gostaria de replicar sua aliança local com o PSB nacionalmente, mas talvez tenha de ceder espaço e devolver os pessebistas para o colo de Luiz Inácio Lula da Silva ou algum preposto.
É antes preciso saber o que ocorrerá com Temer e se o peemedebista renunciaria em caso de afastamento —levando a um pleito indireto no qual Maia pode ter voto, mas no qual as forças envolvidas são maiores do que ele.