Desalinhamento com Fazenda e BC é ‘zero’, diz Rabello de Castro
Presidente do BNDES afirma que sempre foi um crítico do aumento do crédito subsidiado
Economistas, no entanto, veem quebra de sintonia entre o banco de fomento e a equipe econômica
“O desalinhamento com a equipe econômica é zero”, disse o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, ao mentar o pedido de demissão dos dois diretores do banco.
Os executivos apontaram como motivo de sua saída divergências com Rabello sobre a TLP, nova taxa de juros para os empréstimos do BNDES, que foi forjada com a bênção da equipe econômica e do BC.
Segundo Rabello, é “um fato, uma questão aritmética” que a nova taxa oscila mais do que a atual TJLP, o que é um problema para investidores de longo prazo.
“Que precisa ser corrigido, precisa, que precisamos convergir taxas, sim. Tenho desalinhamento zero com meus colegas da equipe econômica. Mas como realiza essa convergência... pera lá, acabei de chegar, será que eu posso dizer uma coisinha?”
O argumento de Rabello é que o aumento dos repasses do Tesouro nos últimos anos ao banco, para bancar taxas de juros mais baixas a empresas, distorceu a análise do peso dos subsídios ao BNDES.
“Essa TJLP cumpriu um papel muito importante e razoavelmente estável durante anos a fio. Nos últimos dois, três anos, em razão de um programa específico chamado PSI, verificou-se uma maior intensidade no fomento [do Tesouro] e que já não apresenta o mesmo comportamento mais recentemente.”
Rabello disse que sempre foi crítico do aumento do crédito subsidiado. “Por que não abrimos esse debate sobre o crédito agrícola?”, sugere.
Para economistas ouvidos pela Folha, o governo demonstra, com as críticas de Rabello de Castro à TLP, estar mais preocupado em atender a demanda de grupos específicos e se segurar no poder em um momento de crise política mais aguda.
“Até que ponto o governo está realmente comprometido com sua agenda de reformas?”, questiona Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e hoje no Banco Safra. Ele diz que a sintonia entre a política econômica da Fazenda e a direção do BNDES parece ter sido quebrada.
Sergio Lazzarini, do Insper, diz que é o esforço de arrumar as contas públicas que eleva a previsibilidade da economia para os agentes econômicos, a partir do momento em que dá espaço para uma taxa de juro mais baixa e, portanto, uma TLP menor.
O curioso, diz Armando Castelar, do Ibre da FGV, é que mesmo a nova taxa de juros não eliminaria totalmente subsídios, já que seria próxima da Selic, taxa muito distante daquelas cobradas por pessoas físicas e empresas.
Nota dissonante, José Roberto Afonso, também da FGV, diz que financiamentos de longo prazo concedidos para investir em infraestrutura não deveriam estar vinculados à dívida pública como referência a taxa.
Como tal, diz ele, passariam a estar sujeitos às mudanças de humor e de clima político, oscilando demais em crises. “Mas é preciso muito cuidado para não ir de um para outro extremo e supor que qualquer funding de origem estatal seja subsidiado.” (MARIANA CARNEIRO E FLAVIA LIMA) É usada como referência para empréstimos do BNDES. É definida pelo Conselho Monetário Nacional A base de cálculo é a meta de inflação e o risco-país. A decisão, porém, também é influenciada por questões políticas A diferença entre o custo de captação e os juros cobrados pelo BNDES acaba sendo subsidiada pelo Tesouro Oqueé Cálculo Efeito Nova taxa de juros para operações de crédito do BNDES contratadas a partir de jan.18 A taxa será corrigida mensalmente pelo Banco Central com base na variação do IPCA + rendimento real da NTN-B Após 5 anos, a TLP será idêntica ao juro da NTN-B, um dos títulos do Tesouro mais negociados no mercado