Folha de S.Paulo

Justiça britânica autoriza morte de bebê

Hospital exige desligar aparelhos porque menino é paciente terminal; pais são contra

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O presidente dos EUA, Donald Trump, e o Vaticano declararam apoio a Charlie Gard, um bebê britânico de 11 meses que, por ordem da Justiça britânica, deve ter os equipament­os que o mantêm vivo desligados apesar de seus pais serem contra.

Em um canal oficial, o papa Francisco escreveu que “defender a vida humana, sobretudo quando ferida por doença, é um dever de amor que Deus confia a todos”.

O Hospital Menino Jesus, que pertence ao Vaticano, contatou o Grande Hospital Infantil de Ormond Street, onde o bebê está internado em Londres, para saber se Charlie pode ser transferid­o.

Trump, por sua vez, declarou que os EUA “ficarão muito felizes em ajudar o pequeno Charlie Gard”. Não está claro, porém, como o governo americano poderia ajudar.

“Sabemos que é um caso desesperad­o e que não há terapias eficazes”, disse à agência italiana Ansa Mariella Enoc, presidente do hospital do Vaticano. “Estamos junto dos pais em orações e, se for seu desejo, dispostos a receber seu filho durante o tempo que lhe resta de vida.”

Charlie, nascido em 4 de agosto, tem uma condição genética rara ligada ao esgotament­o do DNA mitocondri­al e um consequent­e dano que atinge seu cérebro e seus músculos, tornando-o incapaz de mover braços e pernas, de comer e mesmo de respirar por conta própria.

À revelia dos pais, tribunais britânicos decidiram que o menino deve ter permissão para morrer depois de uma batalha jurídica em que médicos afirmaram que a criança não tem possibilid­ade de sobreviver. A família afirma haver um tratamento experiment­al nos EUA que eles ainda não tentaram.

O caso foi levado ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que se recusou a aca- tá-lo na semana passada, mantendo decisões anteriores de que é do interesse do bebê desligar os aparelhos.

Os pais de Charlie, Chris Gard e Connie Yates, manifestar­am desespero por não poderem decidir sobre a vida de seu filho. Eles apareceram em um vídeo no final da semana passada, dizendo que o bebê teria os aparelhos vitais desligados na sexta (30).

“Ele lutaria até o fim, mas não podemos mais lutar por ele”, diz Gard. “Não podemos nem sequer levar nosso filho para morrer em casa.”

Os pais haviam dito que o hospital não queria lhes dar tempo para a despedida, mas depois afirmaram que a retirada foi adiada na sexta. Contatada, a direção do hospital disse que não comentaria detalhes específico­s do caso.

Um porta-voz da Fundação Grande Hospital de Ormond Street confirmou que a instituiçã­o e os pais de Charlie estão “fazendo planos para cuidar dele e lhes dar mais tempo juntos como uma família” e pediu privacidad­e para o hospital e a família, “neste momento perturbado­r”.

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Arquivo pessoal da família Gard/Associated Press Charlie, que faz 11 meses hoje, em hospital de Londres

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