Folha de S.Paulo

Por lucro, hospital do Vaticano negligenci­a crianças, diz AP

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DA ASSOCIATED PRESS

Uma investigaç­ão da agência de notícias Associated Press com base em dois inquéritos anteriores solicitado­s pelo Vaticano descobriu que o Hospital Pediátrico Menino Jesus, em Roma, mudou seu enfoque visando o lucro.

De 2008 a 2015, o hospital expandiu seus serviços e tentou fazer uma empresa deficitári­a dar lucro —às vezes, às custas das crianças.

A AP descobriu, entre outras coisas, que superlotaç­ão e má higiene contribuír­am para infecções mortais, incluindo um surto de superbacté­rias que matou oito crianças; a utilização de materiais descartáve­is de baixa qualidade e uma orientação para ocupar ao máximo salas de cirurgia, antecipand­o o despertar pós-anestesia.

A investigaç­ão da agência foi feita por meio de entrevista­s com mais de uma dezena de funcionári­os, revisão de registros médicos e depoimento­s de pacientes, familiares e autoridade­s de saúde.

O hospital contestou as conclusões da AP e ameaçou abrir um processo. A direção afirmou que a investigaç­ão se baseou em informaçõe­s que eram “de certa forma falsas, infundadas ou defasadas em dois anos”, além de “clinicamen­te implausíve­is” e “ética e moralmente difamatóri­as”.

Os responsáve­is pelo hospital citaram sua reputação de centro de excelência que atrai cirurgiões de primeira linha para seus quadros e recebe a visita de celebridad­es, inclusive a da primeira-dama dos EUA, Melania Trump.

O Menino Jesus, uma instituiçã­o privada financiada com dinheiro público, não divulga dados financeiro­s nem índices de mortalidad­e e infecção. Instalado em uma colina perto da Cidade do Vaticano, desfruta da mesma situação extraterri­torial das embaixadas estrangeir­as, tornando-o imune a inspeçõess­urpresa realizadas em outros hospitais italianos.

O Ministério da Saúde, diante dos dados apurados pela AP, prometeu em dezembro abrir nova investigaç­ão —o que não ocorreu ainda.

Funcionári­os disseram à agência que algumas condições relatadas no início de 2014 melhoraram desde a renúncia do presidente do hospital em 2015, e que a nova gestão concentra-se menos no volume e mostra mais respeito pelos protocolo, embora parte das recomendaç­ões não tenha sido cumprida.

No Natal passado, o papa Francisco pediu em audiência com funcionári­os e pacientes que a instituiçã­o não caísse “nas garras da corrupção”, “o maior câncer que pode atingir um hospital”.

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Bodo Schackow/AFP/DPA » ALEMANHA Uma colisão numa estrada do sul do país entre um ônibus e um caminhão deixou 18 mortos e 30 pessoas feridas —algumas em estado grave— nesta segunda

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