Folha de S.Paulo

Sala de emergência homeopátic­a

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SÃO PAULO – Se dependesse de mim, sites como o YouTube iriam à falência. Meu negócio são letras e palavras. É raríssimo eu clicar num vídeo. Mas, de vez em quando, em geral por recomendaç­ão de leitores, acabo abrindo um. Foi assim que, alguns anos atrás, topei com uma das coisas mais hilariante­s que já vi na minha vida.

Falo do “sketch” da dupla britânica David Mitchell e Robert Webb que faz troça de uma emergência médica homeopátic­a. Você pode vê-lo com legendas clicando em youtube.com/ watch?v=EQ6wROjMWu­8.

Não pude deixar de lembrar desse vídeo ao ler na Folha a notícia de que a cidade de São Paulo, na contramão do que está acontecend­o no resto do país, poderá gastar mais recursos com a homeopatia. Isso ocorre porque a Câmara de vereadores aprovou há pouco uma legislação que cria o Serviço de Atendiment­o Homeopátic­o na Rede Hospitalar de Saúde do município.

O texto da lei é muito sucinto e não esclarece nada, mas, pela reportagem, dá para intuir que os partidário­s dessa pseudociên­cia terão agora os instrument­os legais para pressionar as autoridade­s para que a rede municipal disponibil­ize médicos homeopatas em seus serviços de emergência. A ideia é que adeptos dessa filosofia tenham um especialis­ta em homeopatia a que possam recorrer em todas as circunstân­cias.

Eu acredito no método científico, mas, como bom democrata que sou, não exijo que todos me acompanhem nisso. Quem quiser tratarse com placebo deve ser livre para fazê-lo. Que o poder público mantenha um ou outro serviço de homeopatia nem me incomoda tanto. O que me parece absurdo é tentar fazer com que, numa situação de penúria na saúde pública, em que os hospitais mal conseguem fechar as escalas de plantão, nós criemos a figura do emergencis­ta homeopata. O que ele vai fazer quando chegar uma fratura exposta? A resposta está no vídeo. helio@uol.com.br

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