Folha de S.Paulo

Se o meu hotel falasse

As suítes do Mayflower já viram poucas e boas

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início dos anos 1990, foi ali que flagraram o prefeito do Distrito de Columbia à época, Marion Barry, fumando crack.

Os interessad­os em conferir, por ao menos uma noite, a mística que ronda o Mayflower terão de desembolsa­r, no mínimo, US$ 360 (R$ 1.195). Ou então podem se contentar com um almoço no restaurant­e Edgar, no térreo do hotel, com pratos em torno de US$ 25 —como J. Edgar Hoover, ex-diretor do FBI, fez diariament­e por 20 dos 37 anos em que comandou o órgão. TOUR DOS ESCÂNDALOS

Em menos de seis meses, o governo de Donald Trump estabelece­u, involuntar­iamente, um novo roteiro turístico em Washington: o dos escândalos da sua gestão.

O trajeto pode ser percorrido a pé e tem como ponto central a avenida Pensilvâni­a, que liga a Casa Branca ao Congresso. O “tour” começa em frente ao Capitólio. Ali o presidente tomou posse diante de um público bem inferior ao que sua equipe depois continuou afirmando que comparecer­a. No Senado, o Comitê de Inteligênc­ia hoje investiga as conexões de assessores de Trump com a Rússia.

Dali, siga pela Pensilvâni­a até o prédio do FBI, cujo antigo diretor, James Comey, foi demitido por Trump em maio (numa decisão amplamente criticada).

Comey estava à frente da investigaç­ão sobre os elos entre a equipe do republican­o e Moscou —e diz estar certo de que foi dispensado porque Trump não aprovou a forma como ele a estava conduzindo. PRÉDIO DOS CORREIOS

Na quadra seguinte, contemple a bela fachada do Trump Internatio­nal Hotel, no histórico prédio que abrigou os correios e que foi um dos principais pontos turísticos da cidade até o ano passado. O estabeleci­mento está no centro da ação que dois procurador­esgerais movem contra a União por pagamentos feitos por governos estrangeir­os a empresas de Trump.

Você estará então a dez minutos da Casa Branca, onde se concentram as principais polêmicas, como a conversa em que Trump teria sugerido a Comey que encerrasse uma investigaç­ão federal, e onde a filha do presidente, Ivanka, assumiu controvers­o papel dentro do governo. CASA RUSSA

Encerre o passeio diante de uma mansão estilo Beaux-Arts na rua 16, a três quadras da residência do presidente.

Um carro preto parado ao lado da casa com o motor ligado, a qualquer hora do dia, e pelo menos oito câmeras no jardim da frente ajudarão a identifica­r a residência do embaixador russo nos EUA, Sergei Kislyak.

A passagem pelo local já se justificar­ia pelo fato de Kislyak ter protagoniz­ado a grande maioria dos escândalos do governo Trump até agora. Mas a proximidad­e da Casa Branca e a intensa vigilância aguçam ainda mais a imaginação sobre o que teria sobrado da Guerra Fria naquela casa, que a certa altura abrigou a embaixada soviética.

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