Hoje, sou mais cauteloso e tento estudar a situação.
Mas não é o ideal.
Não é o ideal. Ainda vou buscar patrocínios [para competir no exterior] e ver se conseguimos algumas ações independentes. Se conseguir, é bônus, vamos ficar muito felizes. Eu já entrei em contato com algumas empresas que podem nos ajudar. Da mesma forma que conseguimos resultados dentro da piscina, precisamos mostrar que conseguimos nos virar fora, para não ficar tão dependente do sistema. Se der um problema, está todo mundo no fundo do poço e não há o que fazer. Você foi um dos atletas olímpicos mais bem-sucedidos financeiramente no país. Como está a situação atualmente?
Está difícil. Nesses próximos dois anos o sustento vai ser o clube e a marca esportiva. Enquanto não se definir o que a CBDA vai fazer e qual o futuro, vai ser assim. Eu imagino que os Correios não vão repassar mais recursos como antes. Eles tinham alguns patrocínios individuais [Cielo também recebia apoio], mas eu não conto mais com isso [é patrocinado pela Unimed].
Eu tenho trabalhado mais com ajudas: marca de suplemento que dá linha de produtos; clínica que uso de todas as formas possíveis. A gente está trabalhando dessa forma. Não é o ideal, mas força a aprender a se virar e não ficar escravo do sistema. É importante que o esportista brasileiro entenda que vai ganhar dinheiro para investir na carreira e ir atrás do sonho, e não fazer um pé de meia. É preciso mudar a mentalidade. Você acha possível resgatar aquele Cielo campeão olímpico e mundial de anos atrás?
Difícil responder assim. O principal objetivo desse ano era manter a evolução, e nadei os 50 m livre para 21s79 no Maria Lenk. Eu gostaria de obter uma marca melhor antes do Mundial, e lá fazer um tempo ainda menor. O que mais me agrada é o desafio da competição, mas tecnicamente eu me sinto um milhão por cento melhor hoje. Quando era jovem, acabava sendo meio inconsequente e isso é bom, porque você encara os medos. Você sempre foi conhecido pela exigência, mas ela não pode ter prejudicado e feito você perder os Jogos do Rio?
Sempre busquei coisas novas. Mentalmente, eu já estava em uma briga interna porque não tinha aquela coisa de buscar um pouco mais, o que sempre tive. Em 2015, não conseguia achar motivação para treinar, e isso foi complicado. Eu liguei o modo automático e falei que ia deixar rolar.
Não dava para viver com aquele nível de exigência, caso contrário minha família ia me pôr para fora de casa. Deixei rolar, mas não funciono dessa forma. Meu diferencial sempre foi saber controlar a exigência e usá-la como fogo no dia a dia. É o que tenho feito agora. Ser briguento foi o que me salvou, no final das contas. Se eu brigava, era porque eu precisava mudar alguma coisa. Não podia deixar nunca de ter essa busca interna por algo melhor. Você hoje acha que está mais equilibrada essa questão?
Acho que sim. Estou tentando levar mais na boa. As pessoas estão com essa sensação. Aparentemente, acho que tenho conseguido. Internamente, ainda brigo muito porque não gosto de baixar a bola, eu acho que é uma fraqueza. A minha exigência continua a mesma. Continuo maluco controlando braçada, controlando o treino todo, as coisas que faço dentro e fora da água. Estou com a expectativa de voltar a nadar como antes até o final do ano. Para esse Mundial, só pus o objetivo de cada vez tirar um pouco mais porque isso vai me colocar em uma situação interessante lá. Você falou em chegar à final dos 50 m livre no Mundial. É este o objetivo? A perspectiva de voltar aos melhores do mundo faz pensar nos Jogos de Tóquio-2020?
Não sei. Não estou pensando nisso. Hoje, não faz parte dos meus pensamentos. Agora o meu pensamento é voltar a nadar [os 50 m livre na casa de] 21s3, que foi o que coloquei como meta. Talvez 21s2. O objetivo é voltar a fazer os melhores tempos da minha vida até o final de 2018. Se chegar nisso e vir que 2020 é possível, normal. Pode ser que eu chegue ali e esteja feliz, me dê por satisfeito. Meu objetivo é obter essa marca e aí pintar um cenário novo. Mas vou levar semestre por semestre.