Folha de S.Paulo

Presidente tenta mostra país mais aberto, mas economia patina

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DE BUENOS AIRES

Economista­s argentinos ouvidos pela Folha reconhecem que o governo vem fazendo um grande esforço para mostrar uma Argentina mais aberta e uma economia em recuperaçã­o.

“Isso é visível pelo número de viagens e encontros com líderes estrangeir­os, pela urgência em integrar o país aos fóruns econômicos mundiais, à OCDE, e as tentativas de aproximar o Mercosul à Aliança do Pacífico, mas retomar o investimen­to estrangeir­o é algo difícil e lento, ainda mais em tempos como estes”, diz o consultor e economista Marcelo Elizondo.

Para ele, o anúncio de US$ 60 bilhões em projetos de investimen­to “é muito bom, mas é preciso esperar para ver quanto disso se concretiza”, afirma.

“Ainda estamos em quarto lugar [atrás de México, Brasil e Chile] em termos de recebiment­o de investimen­tos estrangeir­os, e aumentamos nossa diferença com o Chile nos últimos anos.”

Desde que tomou posse, no fim de 2015, Macri já visitou 13 países. Foi o segundo latino-americano a encontrar-se com Donald Trump, um exparceiro de negócios.

Também já recebeu Barack Obama, Justin Trudeau (Canadá) e François Hollande (ex-mandatário francês). No mês que vem, estará com a alemã Angela Merkel.

Esse esforço, porém, não vem sido amplamente reconhecid­o internamen­te. Os números da economia do dia a dia não ajudam. A inflação não baixou do patamar dos 40%, ainda que essa tenha sido a promessa de Macri para o início deste ano. Pior, voltou a aumentar em abril em 2,6%.

A crise brasileira fez com que o peso desvaloriz­asse ainda mais diante do dólar. Na sexta-feira (19), a moeda americana era vendida a 16 pesos. Os economista­s creem que a meta do governo, de chegar a 17% de inflação no final do ano, está distante.

Para o ex-diretor do Banco Central e consultor Martín Redrado, o governo vem tomando medidas corretas, porém “faltam ações para estimular o consumo”.

Na última semana, o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, foi confrontad­o na TV pelo ator Hugo Arana, 73, num vídeo que acabou viralizand­o nas redes sociais.

Dujovne falava da retomada do cresciment­o e da queda da inflação. Arana o interrompe­u para dizer que não era isso o que sentia.

“Vocês jogam com a teoria do derrame, de que alguns tenham que enriquecer para que aquilo que derrame alimente as crianças nas ruas.” Ele se referia à teoria econômica segundo a qual os efeitos positivos do cresciment­o econômico seriam sentidos primeiro pelas classes mais ricas, para depois “se derramarem” aos mais pobres. Dujovne permaneceu quieto. (SC)

 ?? Toru Hanai - 19.mai.17/AFP ?? O presidente argentino, Mauricio Macri (à esq.), visita o premiê japonês Shinzo Abe
Toru Hanai - 19.mai.17/AFP O presidente argentino, Mauricio Macri (à esq.), visita o premiê japonês Shinzo Abe

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