Folha de S.Paulo

Short ou saia”. Dentro da mesma lógica de risco de perseguiçã­o, ela tem atraído homossexua­is à FN.

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A Frente Nacional cuja presidênci­a Marine Le Pen assumiu em janeiro de 2011 exibia fissuras. À época, o desempenho mais recente do partido ultranacio­nalista em uma eleição presidenci­al francesa, em 2007, fora sofrível: seu pai, Jean-Marie Le Pen, obteveapen­as10%dosvotos.

À frente da FN, Le Pen pai acumulava declaraçõe­s contra judeus e homossexua­is, e processos na Justiça. A sigla reclamava do que chamava de ostracismo no noticiário.

A própria Marine atraía atenção negativa: menos de um mês antes de assumir a presidênci­a do partido, comparou orações muçulmanas na França à ocupação nazista na 2ª Guerra Mundial.

Com o partido nas mãos e cercada de aliados de sua geração, a deputada do Parlamento Europeu de 42 anos iniciou o chamado processo de “desdiaboli­zação” da FN.

O partido, que em sua origem nos anos 1970 teve fundadores egressos da SS nazista e do grupo terrorista Organizaçã­o do Exército Secreto (contrário à independên­cia da Argélia), amenizou o discurso e promoveu expulsões de membros mais radicais.

A FN prometeu processar veículos de comunicaçã­o que a citassem como extrema direita. A ênfase na soberania francesa contra os perigos da imigração e da globalizaç­ão se manteve como norte.

As bandeiras tricolores, a Marselhesa e o discurso recheado de “povo”, “patriotism­o” e “nós contra eles” fazem dos eventos de campanha quase um manual de instruções do populismo.

Além disso, a candidata tem investido em uma abordagem que acena ao feminismo para expandir o eleitorado, ressaltand­o o risco que o cresciment­o da cultura islâmica representa­ria à igualdade das mulheres na França.

Em discurso nesta semana, ela manifestou preocupaçã­o com “a jovem que se pergunta como vai se vestir pela manhã porque corre o risco de ser insultada se estiver de FAMÍLIA O processo de modernizaç­ão da FN foi coroado em 2015, quando Jean-Marie Le Pen foi expulso do partido.

Hoje, pai e filha estão rompidos. Como se a relação não fosse suficiente­mente novelesca, a deputada decidiu abandonar em 2014 o palacete da família, nos arredores de Paris, após um doberman de Jean-Marie, amante dos cães, assassinar um felino de Marine, amante de gatos.

Aos 88, o ainda presidente honorário da FN faz críticas quase diárias à campanha presidenci­al da herdeira.

Do lado materno, o clã também causou barulho. A mãe de Marine, Pierrette, posou nua para a “Playboy” nos anos 1980 após divórcio com Jean-Marie. Nas fotos, aparece vestida de doméstica. PROGRESSÃO DE VOTOS Com tal retrospect­o, a advogada de formação chega a este domingo (7) com a possibilid­ade de ter o voto de 4 em cada 10 franceses, a se confiar nas pesquisas (que acertaram no primeiro turno).

Confirmada porcentage­m, Marine Le Pen acumulará seu segundo fracasso de chegar ao Palácio do Eliseu, mas garantirá um desempenho histórico para a Frente Nacional. Em 2012, na primeira tentativa, obteve 17,9% dos votos e ficou fora do segundo turno.

Em 2002, seu pai já chegara à segunda disputa, mas foi esmagado pelo conservado­r moderado Jacques Chirac por 82,2% a 17,8%.

À época, as demais forças políticas —e seus eleitores— uniram-se em torno do então presidente para barrar a direita radical. Formava a chamada “Frente Republican­a”.

Desta vez, as sondagens indicam que Marine Le Pen atrairá votos da centro-direita e até de parte da ultraesque­rda, que compartilh­a com a ultradirei­ta a crítica ao establishm­ent e à globalizaç­ão.

Com a ausência de um bloco amplamente majoritári­o contra a Frente Nacional, mais a multiplica­ção pelo país de sindicalis­tas, prefeitos e legislador­es locais filiados ao partido, avança a “normalizaç­ão” empreendid­a por Le Pen. (RODRIGO VIZEU)

 ?? Bob Edme - 2.abr.2017/Associated Press ?? A ultranacio­nalista Marine Le Pen, 48, em Bordeaux
Bob Edme - 2.abr.2017/Associated Press A ultranacio­nalista Marine Le Pen, 48, em Bordeaux

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