Folha de S.Paulo

Bolsonaro, que tem forte discurso nacionalis­ta, tem

- LUCAS VETTORAZZO

DO RIO

Pré-candidato à Presidênci­a em 2018, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem usado parte do tempo em suas palestras pelo país para atacar demarcaçõe­s de terras indígenas e defender a exploração de recursos estratégic­os nesses locais, como o nióbio, produto retirado de minerais que abundam no território brasileiro.

Segundo pesquisa Datafolha publicada no domingo (30), Bolsonaro tem trajetória ascendente e chega a 15% das intenções de voto em um dos cenários pesquisado­s.

O deputado costuma dizer que o país deveria ter maior controle sobre suas reservas de nióbio e afirma haver jazidas gigantes do produto ainda inexplorad­as justamente por estarem sob terras demarcadas em Roraima.

O nióbio é considerad­o um recurso estratégic­o. Se misturado ao ferro, cria uma espécie de superliga, mais leve e resistente que o aço comum.

É utilizado em gasodutos, turbinas, chassis de carros e até em foguetes espaciais e reatores nucleares.

O Brasil tem a maior reserva conhecida e domina o mercado mundial. É o quarto produto mais exportado da balança comercial mineral brasileira. O país tem 98% das reservas comerciali­záveis do nióbio. No mercado mundial, tem 90% das vendas. O Canadá, os 10% restantes.

Países sem o recurso em seu território fazem reservas estratégic­as do produto. Na China, é crescente o uso na indústria de construção.

Em 2010, relatório do Departamen­to de Estado do EUA vazado pelo WikiLeaks colocava o nióbio no rol dos produtos estratégic­os para o país, o que estimulou teorias conspirató­rias de que o mineral brasileiro estivesse sob risco iminente. MITOS prestado muita atenção nesta pauta, embora exagere quanto a alguns fatos. “O nióbio vale mais do que o ouro”, disse, por exemplo, em palestra no Clube Hebraica do Rio, no início de abril.

Na verdade, uma tonelada de nióbio, já transforma­do emliga,custaatual­mentecerca de US$ 15 mil. O quilo do ouro, na cotação de sexta-feira (21), custava US$ 41,3 mil —a tonelada, portanto, valeria US$ 4,13 milhões.

Bolsonaro diz que a maior reserva de nióbio está sob terras indígenas. Ele leva às suas palestras um mapa feito pelos militares brasileiro­s nos anos 1970 que lista os principais recursos naturais sob o solo brasileiro. “Dentro de Roraima vocês acham tudo o que existe na tabela periódica. De A a Z. Nióbio, ouro, bauxita, diamante, tudo.”

Ele se refere à terra indígena Raposa Serra do Sol, alvo de disputas em razão de sua riqueza e pela impossibil­idade de exploração por causa das demarcaçõe­s.

A maior jazida inexplorad­a de nióbio do país, contudo, fica em outra reserva indígena e ambiental chamada de Morro dos Seis Lagos, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.

Segundo o CPRM, o Serviço Geológico Brasileiro, Seis Lagos pode ter uma reserva de minerais com presença de nióbio de até 2,8 bilhões de toneladas, mas questões logísticas e de exploração no meio da selva amazônica inviabiliz­am comercialm­ente o ativo. Bolsonaro disse desconhece­r a informação.

Bolsonaro ataca indígenas, mas afirma desconhece­r, por exemplo, o modelo da mina de estanho Pitinga, em Presidente Figueiredo (AM). Índios da reserva Waimiri-Atroari controlam a passagem dos caminhões da mineradora.

Segundo Marcos Tune, do Instituto Brasileiro de Mineração, a Constituiç­ão de 1988, que definiu o modelo de demarcação de terras, carece até hoje de regulament­ação sobre a exploração de recursos em áreas demarcadas.

Questionad­o se a regulament­ação não seria opção ao fim das terras, Bolsonaro disse desconhece­r o exemplo.

“E fora que PT, PC do B, PSOL e até a Rede não iriam deixar”, afirma.

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