Caos, o deus da desordem, manda sinais
AVISO PRÉVIO A decisão do Supremo, facilitando a degola de governadores pelo Superior Tribunal de Justiça, botou alguns governadores na carroça que leva maganos à guilhotina. O mineiro Fernando Pimentel é o primeiro da fila. Atrás dele vem Marcelo Miranda, de Tocantins.
Em terceiro lugar, atropelando, está o governador Pezão, com a desgraça do Rio de Janeiro.
Já começaram as sondagens para a dispensa de Pezão. No lance o vice Francisco Dornelles renuncia, o presidente da Assembleia, Jorge Picciani, sai da frente e realizam-se eleições em 90 dias. TOGA JUSTA A decisão do ministro Edson Fachin de jogar o julgamento do habeas corpus do comissário Antonio Palocci para os 11 ministros do Supremo Tribunal criou uma toga justa no excelso pretório.
Pelo menos três ministros acharam que ele fez uma gambiarra canhestra, pois sofreria uma nova derrota na Segunda Turma, onde os votos de Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Lewandowski abriram uma política de celas limpas na Lava Jato. Olhada por outro prisma, Edson Fachin propôs a melhoria da qualidade do julgamento, aumentando o número de cabeças responsáveis pela sentença.
Num colegiado onde a soma dos egos ultrapassa a dimensão do universo, entrou-se num parafuso. A defesa de Palocci apresentou um recurso junto à Segunda Turma propondo a derrubada da iniciativa de Fachin, e lá ele está em minoria. Se a trinca que formou a maioria derrubar a proposta, radicaliza-se o clima de feijoada que se instalou no tribunal.
Nesse clima, só a entrada de um mágico salvará a harmonia do colegiado.
Eremildo é um idiota supersticioso. Ele desconfia que o deus Caos, príncipe da desordem, está mandando sinais para os brasileiros.
Na tarde de quarta-feira a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal mandou soltar o comissário José Dirceu, condenado a 32 anos de cadeia. Ele estava trancado no Complexo Médico Penal de Pinhais, onde era guardado por agentes penitenciários.
Horas depois, em Brasília, dezenas de agentes penitenciários, alguns deles armados, invadiram dependências da Câmara, estouraram duas bombas e obrigaram os deputados a adiar uma sessão que discutia a reforma da Previdência.
Na Câmara, a Comissão de Segurança Pública aprovou o projeto que concede anistia aos policiais militares que se amotinaram em fevereiro no Espirito Santo. Quando Vitória ficou entregue à bandidagem, apareceram radicais de ocasião com o discurso da lei e da ordem. Oportunismo, pois todos os motins anteriores acabaram em anistias, com os radicais fingindo que não prestam atenção. A última anistia, para os envolvidos em motins em 19 Estados, foi aprovada pelo Congresso e vetada por Dilma Rousseff.
Os black blocs e os manos da grande desordem amparada pelo andar de cima andam de farda ou usam gravata
Em junho, durante o governo de Temer, o veto foi derrubado e a anistia, promulgada. Ninguém deu um pio.
Na manhã de quinta-feira a associação dos oficiais da PM de Goiás homenageou com um café da manhã o capitão Augusto Sampaio de Oliveira, que arrebentou a cara de um manifestante durante a greve do dia 28. A conduta do capitão foi registrada, ao vivo e a cores. O ilustre militar nunca foi punido por condutas impróprias, apesar de sua ficha registrar que se envolveu em quatro casos de agressão, inclusive contra menores de idade.
A vítima do capitão homenageado passou por duas cirurgias, ficou cinco dias em coma e continua em estado grave. ANIMADOR É sabido que a função de ministro da Fazenda é cumulativa com a de animador econômico. Nenhum desses hierarcas passou pela cumulatividade com a elegância de Pedro Malan.
O ministro Henrique Meirelles deveria levar para casa uma coleção de vídeos de Malan. Mesmo sendo impossível copiar-lhe a estampa, poderia tentar copiar-lhe o estilo.
No seu desempenho como animador, Meirelles poderia evitar frases com pegadinhas retóricas. Por exemplo: O projeto da reforma da Previdência “não pode ser fundamentalmente alterado”.
Falta definir “fundamentalmente”.
De uma maneira geral sempre que um magano usa a palavra “fundamental”, não quer dizer nada. CAUTELA Lição atribuída ao banqueiro Walther Moreira Salles, o criador do Unibanco, poço de esperteza e sabedoria:
“Convém que você tenha sempre três advogados. Um vigia o outro”. COMUNICA$$ÃO Aqui e ali ouve-se que o governo tem um problema de comunicação na defesa do seu projeto de reforma da Previdência.
Caso raro de um problema que decorre de uma falsa solução. Os çábios do Planalto acharam que torrando dezenas de milhões de reais em publicidade, os defensores da reforma estariam dispensados de ralar, botando a cara na vitrine na defesa de suas propostas em reuniões e em debates públicos.
É compreensível que parlamentares (e ministros) queiram ficar no escurinho do plenário, mas não é justo que paguem seu silêncio com o dinheiro do contribuinte.