Olha, respeitamos muito as opçõesdecadapessoanoâmbito religioso. Graças a Deus, a postura da Igreja tem sido deprofundorespeitopelapluralidade religiosa.
Folha - A CNBB pediu cautela com salvadores da pátria. Alguém específico vem à mente?
Dom Sergio da Rocha - Partimos do contexto de crise ética, com todas as denúncias de corrupção levando ao descrédito da política. Compreendemos essa reação, mas sabemos da importância da política na democracia. O risco, quando se cai na descrença pura e simples, é de se ter soluções antidemocráticas, radicais, violentas. O que acha dos que se autoproclamam antipolíticos, como João Doria e Donald Trump?
Não é que a gente fuja da questão,masnãonospronunciamos sobre pessoas ou governos. Agora, não é possível governar uma cidade, um Estado, um país sem uma perspectiva política clara —de algumamaneiradialogarcomos partidos. Temos insistido que não basta a negociação entre partidos e governo, [é preciso] sempre escutar as ruas. A CNBB critica as reformas previdenciária e trabalhista.
No 1º de Maio, alertamos sobreoriscodeperdadedireitos trabalhistas. Insistimos no diálogo amplo, mas também nas manifestações [a CNBB apoiou a greve de 28/4], desde quepacíficas.Nomomentohá muita agressividade em redes sociais, nas ruas, nas casas. Viraram alvo de ódio ao se posicionar contra as reformas?
Énaturalquequalquerpronunciamento, numa sociedade tão plural, tenha reações dasmaisdiversas[nainternet, pulularam comentários como “eles se escondem atrás das classespobres,massãopodres dericos”e“comunistasdebatina!”]. É o grande desafio de hoje: não responder violência com violência. A gente tem que conservar esta atitude, aindamaisimportantenoano eleitoral, de não olhar quem pensadiferentecomoinimigo. Por falar em 2018, qual será a orientação da Igreja para seus membros durante a eleição?
Procuramos orientar sem jamais interferir indevidamente. Primeiro porque a CNBB não tem posição político-partidária. Segundo porque não queremos substituir a consciência de ninguém. Com tantos escândalos por aí, o primeiro tribunal deve ser a consciência do eleitor. Se a gente tivesse um voto mais consciente, daríamos menos trabalho à Justiça eleitoral. Em 2010, dom Luís Gonzaga Bergonzini (1936-2012), bispo emérito de Guarulhos, militou contra Dilma. Em 2014,
Como instituição, o clero não pode ter atuação políticopartidária. Se ocorre, cabe ao bispo local —ao contrário do que se pensa, não é tudo centralizado no papa, muito menos na CNBB— avaliar o caso. Em carta a Temer, o sr. pediu a indicação de Ives Gandra Filho, dono de visões ultraconservadoras (em artigo de 2012, defendeu que a mulher seja submissa ao marido), ao Supremo Tribunal. Crê que, como presidente da CNBB, deveria influenciar esse processo?
Acartafoiestritamentepessoal, não uma indicação pública. O que deve ser questionado não é a indicação feita por um cidadão, ou mesmo se fosse uma entidade, e sim a participação da sociedade civil na escolha de um ministro do STF. Como temos visto, o papel do Judiciário é de fundamental importância para a ordem democrática do país. O marqueteiro João Santana disse que evitava usar Temer na campanha de 2014 pois eleitores o associavam ao satanismo. Em 1985, FHC teria perdido a eleição à Prefeitura de SP por dar a entender que era ateu. É importante, num país de maioria cristã, que seus representantes o sejam? Inclusive os sem religião?
Sim, também com os que têm postura religiosa diferente. Agora, isso não significa que não consideramos que seja importante a fé, e particularmente a fé cristã. Vivemos um momento em que a fé, para muitos, está relegada ao âmbito privado, uma espécie de privatização da fé. Não podemos admitir isso. O papa disse em 2013 que viria, mas não vem mais ao Brasil para os 300 anos de Nossa Senhora Aparecida, em outubro. Em carta a Temer, fala da crise e critica “soluções amargas” que afetariam “os mais pobres”. Foi uma crítica à atual gestão?