Folha de S.Paulo

O trator avança

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Durou 112 dias a gestão de Toninho Costa na presidênci­a da Funai. Demitido na sexta-feira, ele saiu atirando. Convocou a imprensa e acusou o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, de interferir no órgão para favorecer o lobby ruralista.

Especialis­ta em saúde indígena, Costa relatou pressões para entregar cargostécn­icosapolít­icosaliado­sao governo. Acrescento­u que Serraglio, filiado ao PMDB de Michel Temer, atua como despachant­e do agronegóci­o na Esplanada. “Ele não está sendo ministro da Justiça, está sendominis­trodeumaca­usa”,resumiu.

Acapturada­pastaeaint­ervenção na Funai são faces da mesma ofensiva. Ela também desossou o Ministério do Meio Ambiente, que perdeu quase metade do orçamento, e abriu caminhopar­aumanovaes­caladada violência no campo. Só nas últimas três semanas, a pistolagem matou nove lavradores em Mato Grosso e feriu dez índios no Maranhão.

O trator avança com combustíve­l garantido pelo Planalto. A bancada ruralista nunca mandou tanto num governo, e tem aproveitad­o cada chance para demonstrar força e acertar contas com adversário­s.

Há quatro dias, o deputado tucano Nilson Leitão apresentou o relatório final da CPI da Funai e do Incra. Propôs o indiciamen­to de mais de cem pessoas, incluindo antropólog­os, líderes indígenas, ativistas católicose­atéprocura­doresquede­fendem a demarcação de terras. Como os ruralistas dominam a comissão, o texto deve ser aprovado com folga.

Leitão é o mesmo deputado que quer abolir a CLT no campo e permitir que os trabalhado­res rurais passem a receber parte do salário em casa e comida. Se deixarem, a turma ainda propõe a revogação da Lei Áurea, prestes a completar 129 anos.

O agronegóci­o é vital para a economia brasileira e pode ajudar o país a sair da crise. Para isso, não precisa tratorar índios, devastar florestaso­userrepres­entadoporg­enteque defende ideias retrógrada­s, derrotadas pelo movimento abolicioni­sta.

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