Folha de S.Paulo

Pacote incentiva concessões em municípios

- NICOLA PAMPLONA RENATA AGOSTINI

DO RIO

Depois de vender sua participaç­ão em distribuid­oras de gás canalizado, a Petrobras propôs ao governo mudança na lei que pode retirar dessas empresas fatia importante da receita de transporte do combustíve­l.

A proposta enfrenta resistênci­a de Estados e gerou desconfort­o no grupo formado pelo Ministério de Minas e Energia para analisar mudanças na legislação do setor, levando à saída das distribuid­oras da mesa de negociação.

De acordo com as distribuid­oras, a empresa propôs mudança na lei que permitiria o atendiment­o direto a grandes consumidor­es, como térmicas e indústrias, sem o pagamento de tarifa às concession­árias estaduais.

Esses clientes foram responsáve­is por 75% do consumo de gás no país em fevereiro e representa­m a maior parte da receita das distribuid­oras de gás canalizado.

“Os Estados ficariam apenas com o osso e perderiam o filé mignon”, reclama Antônio Carlos Bettega, secretário-executivo do Codesul (Conselho de Desenvolvi­mento e Integração Sul), que reúne os três Estados da região Sul e Mato Grosso do Sul.

A entidade enviou carta ao presidente Michel Temer e ao ministro Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), pedindo apoio contra a mudança.

“As concession­árias de distribuiç­ão de gás canalizado são um ativo valioso para os Estados, atraem investimen­tos, arrecadaçã­o, empregos e renda”, afirma o texto.

A medida preocupa também os governos que pretendem privatizar as distribuid­oras estaduais, diante do possível impacto no valor de venda dos ativos. OUTRO LADO Em nota, a Petrobras diz que “entende que a tarifa paga às distribuid­oras deve ser proporcion­al aos serviços prestados, de acordo com a Lei do Gás”.

A estatal tem o apoio de entidades que representa­m térmicas e grandes consumidor­es de energia, além das empresas interessad­as em produzir e vender gás no país.

A proposta foi apresentad­a ao subcomitê de distribuiç­ão do Gás para Crescer, iniciativa do governo que analisa mudanças para adequar o setor a um cenário de menor presença estatal.

Em dezembro de 2015, a Petrobras vendeu 49% da subsidiári­a Gaspetro, que tem participaç­ões em distribuid­oras de gás canalizado, à japonesa Mitsui.

Em setembro de 2016, transferiu 90% da Nova Transporta­dora do Sudeste, que opera a malha de gasodutos da região Sudeste, a consórcio liderado pela canadense Brookfield.

A empresa planeja negociar também a malha do Nordeste e focar sua atuação na venda do combustíve­l.

“A proposta da Petrobras pode limitar as distribuid­oras ao atendiment­o de clientes urbanos”, reclama o presidente da Abegás (associação Brasileira das Distribuid­oras de Gás Canalizado), Augusto Salomon.

Segundo ele, a medida ainda aumentaria o custo para o consumidor comum, que teria de arcar a parcela da tarifa que deixará de ser paga pelas indústrias e térmicas.

DE BRASÍLIA

O presidente Michel Temer deve lançar nesta semana um pacote de estímulos à privatizaç­ão de serviços públicos municipais para viabilizar investimen­tos em infraestru­tura comprometi­dos com a falta de recursos das prefeitura­s.

O pacote é um pedido da Frente Nacional de Prefeitos, que, em cinco anos, viu o nível de investimen­to dos municípios cair de R$ 60 bilhões para menos de R$ 45 bilhões.

Para tentar superar as dificuldad­es atuais, o ministro Dyogo Oliveira (Planejamen­to) fecha os detalhes do programa. A ideia é editar uma medida provisória simplifica­ndo as regras para concessões com valores não cobertos pela legislação atual —inferior a R$ 20 milhões— e assim criar condições para que esses projetos possam ser financiado­s pelos bancos.

Como parte desse apoio, o governo vai criar um fundo administra­do pela Caixa, que terá inicialmen­te R$ 100 milhões do Tesouro Nacional. Esse dinheiro será usado para os estudos de viabilidad­e econômica e de estruturaç­ão financeira de cada projeto.

Segundo o ministro, a Caixa também lançará uma linha de crédito para os vencedores dos leilões, a exemplo do que faz o BNDES.

Executivos da Caixa estimam que essa linha atinja R$ 1 bilhão nessa primeira fase. O subsídio só existirá nos projetos que possam usar recursos do FGTS, como saneamento, mobilidade urbana e iluminação pública. Nos demais, será uma linha de crédito como qualquer outra disponível no mercado.

Ainda segundo Oliveira, a Caixa também ajudará o Planejamen­to na estruturaç­ão dos editais das concessões municipais para que eles saiam do papel rapidament­e e tenham condições de serem financiado­s. (MARINA DIAS, JULIO WIZIACK E LAÍS ALEGRETTI)

DE SÃO PAULO

O governo do argentino Mauricio Macri arrefeceu seu “ímpeto reformista” no comércio exterior, fazendo com que a tarefa de exportar para o país vizinho siga penosa para empresário­s brasileiro­s.

É o que nota a CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria) no documento “Agenda Internacio­nal”, que será lançado nesta quarta (25).

O relatório lista as medidas necessária­s, na visão de líderes empresaria­is, para que as vendas da indústria brasileira no exterior cresçam.

E indica os temas para os quais a CNI direcionar­á seu lobby no governo neste ano.

O aparente recuo na atitude do governo argentino —que eliminou barreiras à importação, mas criou outras— frustrou as expectativ­as da indústria.

“Exportador­es brasileiro­s ainda registram queixas de demora no processo de liberação de mercadoria­s”, diz o documento.

Mas a entidade nota que, apesar das restrições, as exportaçõe­s para a Argentina cresceram quase 5% em 2016, após dois anos de quedas.

Por causa do potencial de cresciment­o, a melhoria no comércio com os argentinos está entre as prioridade­s para a indústria neste ano.

A aposta da CNI é que a decisão de suspender os direitos da Venezuela no bloco possa liberar os países-membros a se debruçar sobre a agenda econômica.

Os líderes empresaria­is voltarão a insistir com o governo sobre a necessidad­e de o país fechar acordos comerciais.

O tema ganha novo apelo diante do cresciment­o do discurso protecioni­sta no mundo e da aplicação de medidas contra produtos brasileiro­s.

 ?? Lucas Lacaz Ruiz - 22.fev.15/Folhapress ?? Obras na Nova Transporta­dora do Sudeste, rede de gasodutos vendida pela Petrobras
Lucas Lacaz Ruiz - 22.fev.15/Folhapress Obras na Nova Transporta­dora do Sudeste, rede de gasodutos vendida pela Petrobras

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil