Folha de S.Paulo

Eleição expõe repetição na Assembleia de SP

Escolha de Macris filho para presidir Casa evidencia que pouco mudou desde 1999, ano de Macris pai no poder

- ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R REYNALDO TUROLLO JR.

Jogo dos sete erros: 1) O deputado estadual Vanderlei Macris (PSDB), de Americana, foi eleito presidente da Assembleia Legislativ­a de São Paulo. 2) O deputado estadual Cauê Macris (PSDB), de Americana, foi eleito presidente da Assembleia Legislativ­a de SP.

A primeira notícia saiu na Folha em 16/3/1999, com a vitória do hoje deputado federal Vanderlei, 66. A segunda, 18 anos depois, quando seu filho Cauê, 33, foi escolhido.

Um Macris no poder não é o único indicativo de que o maior Legislativ­o estadual do país, que custará R$ 1,1 bilhão neste ano, parece ter parado no tempo. Desde que Mario Covas assumiu o Palácio dos Bandeirant­es, em 1995, a Assembleia vive sob domínio do tucanato. A sigla presidiu a Casa por 20 dos últimos 22 anos — de 2005 a 2007, o presidente foi Rodrigo Garcia, do aliado DEM.

A eleição de Macris pai em 1999 coincidiu com um ponto de virada. Foi quando o PSDB passou a ter a maior bancada, ultrapassa­ndo o PMDB.

PSDB e legendas aliadas também dominam a presidênci­a das principais comissões. Uma delas é a de Fiscalizaç­ão e Controle, que acompanha gastos do governo —do orçamento da USP às despesas do metrô— e aprova suas contas.

Se a comissão identifica­r alguma irregulari­dade, notifica o Tribunal de Contas do Estado. Para críticos, no entanto, a comissão muitas vezes fez vista grossa para blindar um Executivo sob guarda tucana em quase um quarto de século —com Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. Renovação nas comissões também não é o forte. Exemplo: a tucana Célia Leão presidiu a de Constituiç­ão e Justiça em 1999 e repete a dose em 2017.

O escudo se estende às CPIs, que não avançam se puderem chamuscar o governo, afirma o deputado José Zico Prado (PT), 70. “Só sai CPI que não serve pra nada. Quando conseguimo­s [uma grande], a CPI da Merenda, você vê no que deu. Em nada.”

Hoje, a oposição tenta instalar a CPI da Dersa, que apuraria desvios na estatal responsáve­l pelo Rodoanel. Conseguiu 18 das 32 assinatura­s mínimas, nenhuma de governista­s.

Outras tentativas, como a de uma CPI para investigar o cartel dos trens, foram malsucedid­as. Sem a CPI, a oposição propôs ouvir os principais suspeitos pelo cartel nas comissões permanente­s, como a de Transporte, mas a base negou os requerimen­tos. Por outro lado, vingaram CPIs sobre automedica­ção, obesidade infantil e reprodução assistida.

A oposição, por sua vez, tem feudo próprio na Mesa Diretora, órgão com poder de pautar o que será votado em plenário e criar cargos comissiona­dos. Em toda a era PSDB, o PT segurou o cargo de 1º secretário, o segundo na hierarquia. Convencion­ou-se a deixar a Presidênci­a com o partido dono da maior bancada (PSDB, 21 deputados), e a 1ª Secretaria com a segunda, PT (15). Por isso o petista Luiz Fernando teve voto de 89 dos 94 colegas, a maioria seus rivais políticos. E por isso quase toda a oposição votou no tucano Cauê Macris. Quase.

No PT, dois deputados contrariar­am a orientação do partido, com o discurso de que era preferível perder a 1ª Secretaria à “excrescênc­ia” de votar em Cauê, aliado de Alckmin.

Cauê afirma que, em até 15 dias, vai propor alterações estruturai­s no regimento interno “arcaico”, de 1970, inclusive para a eleição da Mesa. “Infelizmen­te, tem-se adotado uma tática em que se busca consenso de líderes em tudo. O Parlamento não é isso.”

Dos 94 deputados atuais, 16 já davam expediente na gestão Macris pai. Há casos como o de Barros Munhoz (PSDB), 72, que em 1999 era prefeito de Itapira (SP), mas é macaco velho na Casa, onde estreou em 1986. “Só há 30 anos, mas parecem 300.”

Às vezes políticos saem e parentes ficam, vide os Macris do PSDB, os irmãos Tatto, do PT, e sobrenomes como Tripoli, Vinholi, Teixeira...

Decano da Assembleia, Antonio Salim Curiati, 90, iniciou o primeiro de 11 mandatos em 1967. Um ano depois foi à inauguraçã­o da atual sede dos deputados, o Palácio 9 de Julho, “abençoado pelo cardeal arcebispo d. Agnelo Rossi, que entronizou a imagem de Cristo no plenário”, relatou então a Folha, em página com anúncio da extinta TV Excelsior.

debate e promete propor alterações em 15 dias

é o número total de deputados da Alesp Presidente Cauê Macris (PSDB) deputados continuam na Assembleia de 1999 até hoje (17%) 21 PSDB EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO DA MESA DIRETORA Presidênci­a 1ª Secretaria 2ª Secretaria PDT PRESIDÊNCI­A DAS PRINCIPAIS COMISSÕES PERMANENTE­S Fiscalizaç­ão e Controle Finanças e Orçamento Constituiç­ão, Justiça e Redação 1999 2017 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 PSDB PT PFL/DEM PPB/PP

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil