Folha de S.Paulo

PURGATÓRIO

Lars von Trier desce ao inferno para rodar ‘The House that Jack Built’, com o qual espera voltar ao paraíso de Cannes

- GUILHERME GENESTRETI

Em “A Divina Comédia”, Dante precisou cruzar nove círculos do inferno antes de ascender ao paraíso. Assim como o poeta florentino, o cineasta dinamarquê­s Lars von Trier também vaga por seus próprios vales sombrios para encontrar alguma redenção desde que disse, em 2011, “compreende­r” Hitler e ser banido do Festival de Cannes.

Foi na obra dantesca que o controvers­o diretor encontrou os insumos para criar “The House that Jack Built” (a casa que Jack construiu), filme sobre a trajetória de um serial killer com o qual ele espera retornar a Cannes.

“Lars precisa de muita neve”, diz Louise Vesth, produtora que achou gelo suficiente em Dalsland, cidadezinh­a sueca de 50 mil habitantes, um punhado de pinheiros esquálidos e atmosfera lúgubre a 430 km de Estocolmo.

No caminho de ônibus para o set do filme, o grupo de jornalista­s do qual a Folha fez parte indagava o que levou o dinamarquê­s a escolher um local tão isolado. “Há um ar de ameaça silenciosa espreitand­o as casas, não?”, opinou uma repórter sueca.

Lars von Trier anda lentamente, olha para baixo e usa a mão esquerda para segurar a tremedeira da direita quando adentra o local da entrevista à imprensa: uma casa que serve de base para as filmagens, próxima de um galpão onde acabara de gravar.

É a primeira entrevista coletiva do diretor desde 2011.

O alcoolismo, que ele largou “só em parte”, vem à tona logo no início. “Estou me esforçando para não beber tanto”, diz. “Infelizmen­te não surgiu nenhuma droga no caminho.” Em outra ocasião, havia afirmado que sem o álcool sofre de bloqueio criativo.

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