Supermercados suspendem produtos de investigadas
FOLHA
Um dia diferente e histórico. Foi o que vivenciou, nesta terça-feira (21), Sérgio De Zen, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e professor da Esalq/USP.
Há 27 anos no acompanhamento diário dos preços de boi no Cepea, o pesquisador nuncatinhavividoumasituação como esta: negociações de boi totalmente travadas.
Houve dificuldade de estabelecer o preço da arroba do animal em todo o Brasil. Nem em outubro de 2005, quando o país viveu uma das piores crises do mercado —após o caso de febre aftosa em Mato Grosso do Sul—, houve uma situação como essa.
Zen diz que o país vive uma crise de informação: “Não se consegue explicar o que aconteceu nem a amplitude do que está acontecendo. Há uma desinformação gigante”.
E essa crise de informação não se limita ao mercado interno. Nos últimos dias, o pesquisador foi procurado pelas principais agências internacionais de notícias, inclusive a Al Jazira, que tem foco no Oriente Médio.
Na avaliação de Zen, temos problemas. Nos últimos 15 anos, não se evoluiu no sistema de fiscalização. Mas o país ainda tem tudo para mudar. “É preciso repensar a es- trutura [de fiscalização], e a sociedade tem de exigir isso.”
Para Zen, o passo inicial na Carne Fraca é esclarecer a amplitude do problema. Em seguida, punir os culpados.
Finalmente, construir um modelo de trabalho, inclusive com gerência independente. A sociedade deve participar com o governo, mas sem interferência política. ABATES A situação de mercado ficou tão incerta que os frigoríficos vão diminuir a escala de abates nos próximos dias.
Cinco dos países que interromperam o recebimento da carne bovina brasileira —Chile, China, Hong Kong, Egito e Argélia— somaram 55% das exportações do país em 2016.
Com isso, a carne que tinha como destino esses países deverá ser colocada no mercado interno.
Um dos efeitos internos da operação foi a queda dos preços da arroba de boi. Os preços médios pesquisados pelo Cepea nesta terça indicaram R$ 142,6 por arroba, ante R$ 145,1 na véspera.
A situação na avicultura e na suinocultura é diferente. Ao atingir o período ideal de abate —próximo de 42 dias—, o frango não pode deixar de ser abatido, pois deixa de responder às especificidades do mercado. Além disso, elevase o custo da produção.
No caso dos suínos, há possibilidade de remanejamento, mas pequena.
DE SÃO PAULO
Grandes redes de supermercado anunciaram nesta terça (21) a decisão de retirar de suas gôndolas produtos das fábricas envolvidas na Operação Carne Seca.
As bandeiras Pão de Açúcar, Extra e Assaí, do grupo GPA, informam que “suspenderam preventivamente” a compra das três fábricas interditadas na operação, duas unidades da Peccin e a BRF Mineiros. O grupo não infor- mou qual a quantidade de produtos que recebia de tais fornecedores.
Por meio de nota, o GPA disse que, para os itens “in natura”, “todos os lotes de produtos de fornecedores recebidos em suas centrais de distribuição passam por processos internos próprios de auditoria, por amostragem”.
Uma das unidades, segundo a GPA, era fornecedora do Extra e do Pão de Açúcar. Das análises realizadas pela companhia, não houve caso regis- trado de irregularidade.
O Carrefour também diz ter retirado “preventivamente” dassuaslojasosprodutosvindos dos frigoríficos citados. A rede também diz que realiza análises laboratoriais periódicas nos perecíveis que recebe.
A Carne Seca desencadeou decisões semelhantes no varejo regional. O paranaense Grupo Muffato informou que cancelou a parceria que tinha com o Peccin.
“Alguns produtos que tiveramcomprovadamenteaqua- lidadeafetadaforamretirados definitivamente da área de vendas, como é o caso daqueles fornecidos pelo Frigorífico Peccin,cujaparceriafoiinclusive cancelada pela rede. Alguns produtos de outros fornecedores foram retirados preventivamente da área de vendas até que os fatos sejam devidamente esclarecidos”, disse a rede, em nota.
O Walmart não respondeu. Procurada, a Apas (associação de supermercados) não quis comentar.