Folha de S.Paulo

Indicado à Suprema Corte diz que nem presidente está acima da lei

Nome de Trump para tribunal, Neil Gorsuch afirma, em sabatina, que rejeitará interferên­cia

- ISABEL FLECK

Se for aprovado pelo Senado, juiz deverá, porém, pender balança da Corte para o lado dos conservado­res

“Ninguém está acima da lei e isso inclui o presidente dos Estados Unidos.” A frase foi repetida quase como um mantra pelo juiz Neil Gorsuch, indicado por Donald Trump para assumir o assento vago há 13 meses na Suprema Corte, ao enfrentar a sabatina de sua confirmaçã­o na Comissão de Justiça do Senado, nesta terça-feira (21).

Gorsuch respondia a perguntas sobre eventuais decisões de Trump que possam contrariar a legislação americana, como retomar técnicas de interrogat­ório considerad­as tortura pelo governo Obama ou espionar cidadãos.

Por várias vezes na sessão que durou dez horas, o juiz quis enfatizar que, se confirmado, atuará com independên­cia da Casa Branca.

“Quando eu me tornei um juiz, eles me deram um martelo, não um carimbo”, disse. Ele ainda afirmou que não terá dificuldad­e de tomar decisões contrárias ao Partido Republican­o. “Não há juiz republican­o ou democrata. Temos apenas juízes neste país.”

Gorsuch foi questionad­o por democratas se Trump pediu para que ele anulasse a decisão da Suprema Corte de 1973 que reconheceu o direito ao aborto —ideia que o republican­o defendeu na campanha. “Teria saído pela porta [se ele tivesse pedido]”.

O magistrado permaneceu calmo em praticamen­te toda a sabatina, mesmo quando enfrentou questões mais duras de senadores democratas sobre suas antigas decisões.

Por muitas vezes sorriu e fez comentário­s simpáticos aos parlamenta­res —continuaçã­o de um esforço de aproximaçã­o desde que foi indicado, em janeiro.

O juiz, contudo, se esquivou de perguntas que o fariam se posicionar sobre temas como o aborto e regulação de armas, dizendo que seria “impróprio” antecipar qualquer sinal de como ele votaria em futuros casos.

Quando o senador democrata Patrick Leahy (Vermont) sugeriu que ele apoiaria o decreto de Trump que veta cidadãos de países de maioria muçulmana, caso o processo chegasse à Suprema Corte, Gorsuch disse que “muitas pessoas falam besteira” e que o parlamenta­r “não tem ideia” de como ele votaria.

Entre as decisões que tomou como juiz de uma corte de apelações no Colorado mais questionad­as, está uma em que ele decidiu a favor dos donos da empresa de decoração Hobby Lobby, que se recusaram a pagar métodos contracept­ivos para funcionári­os por questões religiosas. No Senado, Gorsuch dis- se que a decisão seguiu a lei.

Enquanto os democratas, que ainda amargam a decisão da comissão, de maioria republican­a, de sequer apreciar o nome de Merrick Garland, indicado por Obama para a vaga, tentavam obter alguma declaração polêmica do juiz, os republican­os aproveitar­am a sabatina para exaltar o preparo de Gorsuch.

Espera-se que a votação na comissão ocorra em 3 de abril, após audiência com testemunha­s. O processo segue para o plenário do Senado, onde os democratas podem aplicar uma manobra para que sejam necessário­s 60 votos para avançar com a confirmaçã­o. Os republican­os têm hoje maioria de 52.

Se for aprovado, Neil Gorsuch, 49, será o juiz mais novo da Suprema Corte e penderá a balança para os conservado­res. Hoje, quatro magistrado­s têm essa tendência e quatro são liberais.

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Susan Walsh/Associated Press Gorsuch gesticula ao falar de basquete no Senado, onde seu nome precisa ser aprovado

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