Folha de S.Paulo

Crítica feminina é igual na direita e esquerda

Para pesquisado­ra da UFPR, reclamaçõe­s e dificuldad­es de candidatas mulheres independe do espectro político

- ANGELA BOLDRINI

Segundo professora, quantidade de mulheres na Câmara dos Deputados brasileira é ‘vergonha’

“As reclamaçõe­s das mulheres são as mesmas na direita e na esquerda”, diz a professora e pesquisado­ra da UFPR Luciana Panke à Folha.

Segundo ela, que acaba de lançar o livro “Campanhas Eleitorais para Mulheres: Desafios e Tendências” (Ed. UFPR, 231 págs., R$ 40), em que entrevisto­u mulheres políticas e consultore­s de 14 países da América Latina, as candidatas e eleitas afirmam se sentir desamparad­as em todo o espectro político.

“Na hora de fazer campanha, muitas vezes as mulheres são deixadas de lado, algo como ‘pode ser candidata, mas se vira’”, diz a pesquisado­ra. As dificuldad­es similares aparecem não só dentro dos próprios partidos, mas com os eleitores.

Panke conta que entrevisto­u, no mesmo dia, as duas candidatas mulheres à Prefeitura de Curitiba, em 2016.

“Embora uma fosse de direita [Maria Victoria, do PP] e outra de esquerda [Xênia Mello, do PSOL], as duas reclamaram que tinham que provar sempre que tinham capacidade de governar, por serem jovens e bonitas”, diz.

De acordo com a professora, a necessidad­e de provar que tem condições de governar é mais forte nas mulheres do que nos homens. “Todas as mulheres que eu entreviste­i tinham uma ótima formação, melhor do que muitos dos seus pares homens, e mesmo assim elas tinham que se provar o tempo todo.”

Essa seria, diz a pesquisado­ra, uma das razões para a baixa presença de mulheres na política. No Brasil, por exemplo, a porcentage­m de mulheres na Câmara dos Deputados não chega a 10%.

“Isso é uma vergonha”, diz Panke. A pesquisado­ra fez um levantamen­to que mostra que o país é o que tem a terceira menor representa­tividade feminina na Casa na América Latina, à frente apenas de Belize e Haiti. Na comparação com o mundo todo, o Brasil aparece em 155º lugar.

O primeiro lugar fica com a Bolívia, onde 53% da Câmara é composta por deputadas. “E, no entanto, a Bolívia é um dos países mais machistas, onde ouvi até relatos de casos de feminicídi­o político”, afirma.

Para a pesquisado­ra, que analisou as campanhas eleitorais de Dilma Rousseff em 2010 e 2014, o machismo foi fator determinan­te no impeachmen­t da presidente, em 2016.

“Vários comentário­s que eram feitos atacavam a figura da mulher, não da gestora”, diz Panke. “Além disso, o modo de fazer política é muito diferente do de um homem, não é uma política de chamar para jantares.”

Ela diz ainda ver com preocupaçã­o a forma com que o impeachmen­t de Dilma Rousseff pode afetar a participaç­ão feminina na política do país. “Com certeza houve um abalo, mas espero que as mulheres não se intimidem com essa saída forçada da presidente.”

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Marcos Solivan - 5.jan.2017/UFPR A professora e pesquisado­ra da UFPR Luciana Panke

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