Odebrecht pagou US$ 3,4 bi de forma ilícita, diz delator
Valores foram movimentados de 2006 a 2014, segundo Hilberto Mascarenhas
Deste total, cerca de 20% foram destinados a caixa 2 de campanhas no Brasil, afirmou o ex-executivo
Hilberto Silva Mascarenhas, ex-funcionário da Odebrecht que trabalhou no departamento que fazia repasses de propina e caixa dois pela empresa, disse à Justiça Eleitoral que o setor movimentou cerca de US$ 3,39 bilhões, o equivalente a cerca de R$ 10 bilhões, em pagamentos ilícitos no período de 2006 a 2014.
Segundo ele, entre 15% a 20% deste valor foram destinados a campanhas no Brasil por meio de caixa dois.
O restante, de acordo com Mascarenhas, era usado para pagar propina, obras e serviços no exterior. Ele disse também que o setor fez pagamentos a políticos e campanhas de Angola e da América Latina.
Mascarenhas foi funcionário desde 2006 da área de pagamentos ilícitos da Odebrecht, e é um dos 78 delatores do grupo na Lava Jato.
Ele prestou depoimento ao ministro Herman Benjamin na segunda-feira (6) na ação que pede a cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer na eleição de 2014.
Benjamin determinou que os delatores que prestaram depoimento ao TSE entreguem, em 48 horas, documentos que comprovem os fatos narrados por eles.
Do total de delatores, 77 tiveram negociação conjunta coordenada pela Odebrecht. O 78º, Fernando Migliaccio, fechou acordo separadamente.
Mascarenhas detalhou os valores movimentados por ano pelo departamento. A quantia cresceu ao longo do governo Lula e só reduziu em 2014, depois de deflagrada a Lava Jato. Segundo ele, passaram pelo setor US$ 60 milhões em 2006. O valor foi para US$ 260 milhões em 2009 e chegou a US$ 420 milhões em 2010. Em 2013,
Executivos da Odebrecht prestaram depoimento ao TSE
Quem é alcançou US$ 750 milhões, e então caiu para US$ 450 milhões em 2014.
O delator se definiu como um operador financeiro da Odebrecht. “Na minha área é assim: quem paga na frente, leva atrás”, disse. Ele relatou que era responsável por autorizar entregas de valores. “Eu tinha algumas regras, e uma delas era entregar, no máximo, R$ 500 mil por dia”.
Se o pagamento fosse em moeda estrangeira, segundo o delator, o euro era usado no lugar do dólar para evitar o rastreamento do dinheiro pelos americanos.
Mascarenhas detalhou os pagamentos feitos ao marqueteiro Duda Mendonça. Na audiência de segunda, leu um e-mail anexado à delação de Cláudio Melo Filho, outro exexecutivo da Odebrecht, no qual trata de pagamento de caixa dois para Duda relacionado à campanha de Paulo Skaf (PMDB) em 2014.
“PS [Paulo Skaf] ficou aquele buraco de 4 reais com DM [Duda Mendonça]. O que era óbvio. Depois de muito choro, não tive como não ajudar”, diz o texto do e-mail enviado por Marcelo Odebrecht a Mascarenhas em outubro de 2014.
No fim da mensagem, Marcelo disse que ficaria com “crédito para a próxima” campanha e que Skaf avisaria o amigo de Melo Filho, ao qual chamou de “MT”.
De acordo com pessoas envolvidas na investigação, a sigla MT se refere ao presidente Michel Temer, aliado de Paulo Skaf.
Mascarenhas e Melo Filho falaram sobre este repasse: o primeiro disse que Mendonça recebeu R$ 10 milhões; já Melo Filho afirmou que R$ 6 milhões foram pagos durante a campanha e os outros R$ 4 milhões foram pagos depois.
Skaf tem dito que nunca pediu nem autorizou ninguém a solicitar qualquer contribuição de campanha que não as declaradas em suas prestações de contas. Duda Mendonça não tem se manifestado sobre o tema. (LETÍCIA CASADO, BELA MEGALE, RUBENS VALENTE E WÁLTER NUNES) O que disse*