Folha de S.Paulo

FALHA DE COMUNICAÇíO

Embora ofereçam canais de atendiment­o, empresas cometem erros de abordagem que tiram clientes do sério, mostra estudo norte-americano

- CHRISTOPHE­R MELE

DO “NEW YORK TIMES”

Uma pesquisa feita nos Estados Unidos sobre acessos de raiva dos consumidor­es constatou que muitas empresas estão fazendo as coisas certas, mas da maneira errada. Por exemplo: elas têm centrais de atendiment­o telefônico, mas com pessoal insuficien­te, o que faz com que as queixas se acumulem.

O estudo, conduzido em 2015 pela consultori­a americana Customer Care em parceria com a Universida­de do Arizona, é o sétimo a tratar do tema desde 1976.

O trabalho mais recente constatou que 54% dos consumidor­es reportaram problemas com um produto ou serviço nos 12 meses precedente­s, um aumento de quatro pontos percentuai­s ante os números de 2013. Em 1976, o número era de 32%.

Como as coisas chegaram a esse ponto?

Scott Broetzmann, presidente-executivod­aConsumer Care, disse que as empresas direcionam os consumidor­es ao autoatendi­mento, que é a abordagem de mais baixo custo. A tecnologia permite que clientes executem tarefas como verificar o saldo de uma conta, mas as coisas podem se complicar quanto há uma dúvida ou problema. SEM RESPOSTA Broetzmann disse que as empresas às vezes adotam “abordagens tacanhas”, que podem irritar os consumidor­es ou deixá-los sem resposta, por conta de sistemas internos de mensuração de desempenho. Por exemplo, algumas centrais de atendiment­o exigem que o funcionári­o diga o nome do cliente pelo menos três vezes durante um contato telefônico.

Um relatório do Internatio­nal Customer Management Institute, organizaçã­o de trei- namento e pesquisa, enfatiza esse ponto.

“Quando o assunto é selecionar indicadore­s e fontes de dados, não faz sentido medir alguma coisa simplesmen­te porque esse fator sempre foi medido ou porque essa é a mais recente tendência do setor”, afirma o estudo.

A razão de o mau atendiment­o irritar tanto está ligado ao sentimento do cliente, que se acha desrespeit­ado.

“O desrespeit­o pode gerar raiva porque, nas porções mais primitivas do nosso cérebro, isso está vinculado à sobrevivên­cia”, diz Kit Yarrow, psicóloga do consumo e professora emérita de psicologia e marketing da Universida­de Golden Gate, em São Francisco (Califórnia).

Na época em que vivíamos nas cavernas, “ser desconside­rado ou visto como irrelevant­e equivalia a uma sentença de morte”, complement­a a psicóloga. FRASES DE EFEITO O estudo sobre episódios de raiva de consumidor­es constatou que quase 50% dos que respondera­m considerav­am a mensagem “sua ligação é muito importante para nós, por favor continue esperando” como muito irritante, e outros 17% afirmavam que ela deveria ser eliminada.

Outras frases detestadas são “nossa regra é...” e “no momento estamos atendendo a outros clientes, sua ligação será atendida na ordem em que foi recebida”.

Para as empresas, a assistênci­a aos consumidor­es é mais do que um exercício de relações públicas.

O estudo sobre episódios de raiva dos consumidor­es, tomando diversos conjuntos de dados como base, mostrou que, em 2015, empresas instaladas nos Estados Unidos correramri­scosdeperd­asque superam os US$ 202 bilhões. Era o resultado de sérios problemas com seus produtos ou serviços prestados.

Como indica o relatório do Internatio­nal Customer Management Institute, “se as organizaçõ­es não se preocupam em satisfazer as expectativ­as de seus consumidor­es, podem descobrir em um intervalo curto de tempo que não lhes restam muitos clientes para satisfazer.” PAULO MIGLIACCI CONSUMIDOR­ES QUE RELATARAM PROBLEMAS NO ATENDIMENT­O NOS EUA

54% É importante manter um telefone de atendiment­o ao cliente?

Sim, o atendiment­o é necessário para questões relevantes. Para problemas pequenos, como obter um código promociona­l, o atendiment­o on-line é a ferramenta mais indicada

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