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‘Logan’, terceiro filme do Wolverine, do grupo X-Men, leva o herói de garras para um futuro próximo sombrio e não poupa na violência; leia entrevista com o diretor James Mangold
Esqueça o que você sabe sobre Wolverine, o mutante mais conhecido entre os heróis Marvel. Esqueça uniformes de couro, esqueça batalhas contra vilões coloridos, esqueça o fator de cura que tornava o herói semi-imortal. “Logan”, o terceiro filme solo do herói de garras indestrutíveis, é o fim de uma era e, talvez, um novo começo.
Quando o longa estrear no Brasil, em 2 de março, deverá ser o ponto final na jornada de Hugh Jackman, dono do papel desde 2000, quando substituiu o ator Dougray Scott às vésperas das filmagens do primeiro “X-Men”, de Bryan Singer.
Contudo, “Logan” é uma espécie de recomeço para um personagem que nunca alcançou o potencial completo nos cinemas. “Não tínhamos certeza de querer fazer mais um Wolverine”, admite à Fo-
JAMES MANGOLD
diretor de ‘Logan’ lha o diretor James Mangold, responsável pelo bem recebido “Wolverine: Imortal”, de 2013.
A razão alegada pelo cineasta é que ele não aguentava mais os fãs reclamarem da falta de violência, sangue e ação que sempre foram a marca registrada do personagem nos quadrinhos. “Parecia que eu não queria isso, mas era diferente: eu não podia. A maneira como classificam a violência nos cinemas é como um filme pornô, não pode haver penetração, senão ganha censura máxima. E como fazer um personagem que possui lâminas nas mãos entrar em ação sem mostrálas enterrando no corpo dos bandidos? Era complicado...”
“Logan” se despe dessa complicação. Nos primeiros minutos do filme, encontramos o mutante morando escondido num silo abandonado em El Paso, fronteira dos EUA com o México. Estamos em 2029, um muro divide as nações, o herói mais velho passa longe dos dias de glória, andando de forma capenga, trabalhando de motorista para adolescentes histéricas à noite e cuidando de um demente Charles Xavier (Patrick Stewart) durante o dia.
Durante um descanso, Logan flagra uma gangue roubando as calotas do seu veículo e, por mais relutante que esteja em se revelar, ele enfrenta o grupo. Numa cena de ação que não faria feio numa produção de Quentin Tarantino, membros são decepados explicitamente e o próprio herói mal consegue se recuperar do confronto. VIDA MUNDANA Apesar da adrenalina, o clima é de melancolia, um cruzamento entre “Os Imperdoáveis” (1992) e a saga “Mad Max”. “A ideia de ver superheróis lidando com problemas mundanos da vida é interessante. É um encaixe natural para o fim, essa sensação de estar cansado de ser um herói, como Clint Eastwood em
PODERES
Fator de cura rápida e um esqueleto (com garras retráteis) coberto pelo metal mais duro do universo Marvel, o adamantium
CINEMA
O ator Hugh Jackman viveu Wolverine 8 vezes desde o primeiro “X-Men” (2000). Três filmes foram só dele: “X-Men Origens: Wolverine” (2009), “Wolverine: Imortal” (2013) e agora “Logan” (2017) ‘Os Imperdoáveis’. Não queria explicitamente fazer um faroeste, mas há muito que podemos aprender com o gênero”, confessa Mangold.
A ideia de radicalizar Wolverine existia havia algum tempo. Mas os executivos da Fox só deram o sinal verde para essa versão pós-apocalíptica e depressiva de um velho herói esquecido quando “Deadpool” rendeu quase US$ 800 milhões sem o público infantil (menores de 17 anos acompanhados dos pais).
“Ficou mais fácil convencer o estúdio. Além disso, concordamos em fazer o filme com menos dinheiro”, admite o diretor, que contou com um orçamento de US$ 120 milhões. “Isso funcionou, porque eu acho os anteriores muito limpos. Precisávamos de uma estética diferente para fazer algo novo e original.” “Logan” recebeu a mesma classificação etária de “Deadpool” nos EUA
O filme não se destaca apenas pelas incríveis cenas de ação, incluindo as da garotinha Laura (Dafne Keen), que possui habilidades como as do personagem de Jackman —o mistério sobre a paternidade é um dos motes.
“Queria que a abertura mostrasse Logan dirigindo ao lado do muro na fronteira para mostrar como o filme é urgente e provocativo”, diz Mangold. “Laura é meio-mexicana e foge com sua enfermeira por causa de maus tratos impostos pelos agentes americanos. É bem sombrio.”
O filme é tão isolado do resto da franquia “X-Men” que Mangold decidiu brincar com essa distância. Em diversos momentos, Logan é retratado como alguém famoso, cujas histórias lendárias viraram gibis neste mundo hiperrealista.
“Os X-Men são figuras mitológicas, quase ficcionais, neste mundo”, explica o cineasta. “Quando você assistir aos outros filmes ‘X-Men’, se perguntará se eles são a versão colorida desses quadrinhos. ‘Logan’, por outro lado, é a realidade suja. Ele é uma lenda que caminha sobre a Terra, como um astro esquecido dos esportes ou um velho astronauta. É diferente de tudo que você já viu na Marvel.”
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Não tínhamos certeza de querer fazer mais um Wolverine. A maneira como classificam a violência nos cinemas é como um filme pornô: não pode haver penetração ou leva censura máxima. E como fazer um personagem que possui lâminas nas mãos entrar em ação sem mostrálas enterrando no corpo dos bandidos? Era complicado...