Folha de S.Paulo

Procurador­ia pede fim de sigilo de preço na Petrobras

Recomendaç­ão, que precede eventual ação judicial, quer publicidad­e para demonstrat­ivos de valores

- CAMILA MATTOSO

Negociaçõe­s de estatal são reguladas por decreto de 1998, sob FHC, com regras tidas como mais frouxas

O Ministério Público Federal enviou um ofício à Petrobras cobrando transparên­cia e pedindo mudanças nos processos de licitação da estatal.

A recomendaç­ão é que os participan­tes das disputas para prestar serviços à petroleira passem a dar publicidad­e aos Demonstrat­ivos de Formação de Preço (DFP), item que atualmente é sigiloso. O DFP é uma espécie de orçamento que os concorrent­es apresentam durante o processo de licitação para explicar como chegaram ao preço final do serviço.

Atualmente, o manual interno da Petrobras preserva o sigilo, sob o argumento de que tais dados são confidenci­ais e fazem parte da estratégia comercial de cada um.

O Ministério Público tomou a medida após uma reclamação de um participan­te em uma licitação, no final do ano passado.

A Petrobras não aplica a Lei de Licitação 8.666 para firmar seus contratos, caminho obrigatóri­o para quase todas as estatais.

Um decreto de 1998, da gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), é o que regula as negociaçõe­s da companhia, com regras considerad­as pelo mercado como menos rigorosas.

Antes de abrir um inquérito, a Procurador­ia decidiu fazer a recomendaç­ão, com o objetivo de resolver o assunto antes de judicializ­ar o caso.

Entre as justificat­ivas para a recomendaç­ão, o Ministério Público afirma que “se reputa de todo interesse à sociedade conhecer, plenamente, quais os critérios daquela proposta comercial que vinculará a contratada ao serviço pretendido”.

A Procurador­ia lembra no parecer que a falta de detalhamen­to nas propostas “foi tema de delação premiada na Lava Jato, na medida em que referidas condutas favoreciam a prática de ilícitos”.

O órgão anexou um trecho do depoimento de Maurício Mendonça Godoy, ex-presidente da Toyo-Setal Empreendim­entos, uma das primeiras empresas a se colocar à disposição de colaborar com investigaç­ões na operação.

A recomendaç­ão da Procurador­ia foi assinada pelo procurador da República Roberto Antonio Dassié Diana, de São Paulo, que ainda pontua que apenas situações de exceção devem ficar em segredo, sendo sempre justificad­as, com embasament­o jurídico que respalde a decisão.

A Petrobras tem 15 dias úteis para responder ao Ministério Público. O ofício foi enviado ao presidente Pedro Parente dia 20 de janeiro.

Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a petroleira afirma que “apresentar­á esclarecim­entos no prazo” e que “atua com transparên­cia nas suas contrataçõ­es, inclusive prevê, em seu regramento interno, que os documentos que formalizam os atos do procedimen­to licitatóri­o são públicos, sendo observada toda a legislação vigente, como a Lei de Acesso à Informação”.

No documento enviado à Petrobras, o procurador afirma que “descumprim­ento do regime legal de transparên­cia pelos atentes públicos tem por consequênc­ia a responsabi­lização destes por ato de improbidad­e administra­tiva, nos termos da mesma lei citada pela companhia, a de Acesso à Informação.

 ?? Dez.2010/Divulgação ?? Plataforma de Mexilhão (PMXL-1), da Petrobras, que opera na bacia de Santos (SP)
Dez.2010/Divulgação Plataforma de Mexilhão (PMXL-1), da Petrobras, que opera na bacia de Santos (SP)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil