Folha de S.Paulo

Temer f lexibiliza preservaçã­o em f loresta do Pará e legaliza posseiros

Ambientali­stas criticam medida provisória e temem estímulo a invasão em áreas protegidas

- FABIANO MAISONNAVE

Para diretor do ICMBio, mudança permitirá reduzir o desmate e aprimorar o controle da área de proteção

Em ação criticada por ambientali­stas e celebrada por posseiros, o presidente Michel Temer assinou uma medida provisória que abre o caminho para a regulariza­ção de dezenas de estabeleci­mentos rurais localizado­s dentro da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxin, no sudoeste do Pará.

A MP 756, publicada nesta quarta (20), retirou 305 mil hectares (o equivalent­e a quase duas cidades de São Paulo) da Flona, que agora passam a ser parte da recém-criada Área de Proteção Ambiental (APA) Jamanxin. Com isso, se reduz o nível de proteção legal, permitindo a permanênci­a dos posseiros.

A mudança contraria relatório de 2009 do Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio), segundo o qual apenas uma área de 35 mil hectares deveria ser excluída da Flona.

“Existem apenas posseiros, basicament­e com documentos de compra e venda, com pretensões fundiárias quase que exclusivam­ente de grandes extensões, com alta concentraç­ão fundiária, e que refletem uma ocupação voltada à pecuária extensiva”, afirma o relatório, que defendia a “desintrusã­o” da maioria dos ocupantes ilegais.

A criação da APA, que incorpora outras 230 mil hectares de áreas que não estavam protegidas, faz parte de um pacote de mudanças, por meio de duas medidas provisória­s, em quatro unidades de conservaçã­o no entorno da rodovia BR-163, usada para escoar a produção agrícola de Mato Grosso.

A Flona Jamanxin é a unidade de conservaçã­o com o maior incremento de desmatamen­to do país. A área de influência da rodovia concentra 70% dos novos desmates da Amazônia Legal.

A unidade tem registrado episódios de violência relacionad­os à madeira e ao garimpo. Em junho, um PM foi morto a tiros quando participav­a de uma operação do Ibama contra madeireiro­s.

A criação da APA contradiz recomendaç­ão do Ministério Público Federal, que entrou com uma ação civil pública contra qualquer mudança na Flona. A Justiça Federal ainda não julgou o caso.

Para Elis Araújo, da ONG Imazon, a mensagem que o governo transmite é de que “vale a pena ocupar terra pública dentro de unidade de conservaçã­o”.

“Como se justifica alterar uma unidade de conservaçã­o para beneficiar médios e grandes pecuarista­s? Que tipo de atividade o governo está estimuland­o para o país?”

Em linha semelhante, Nurit Bensusan, do ISA (Instituto Socioambie­ntal), afirma que as alterações, embora aumentem a área preservada, deverão estimular invasões em unidades de conservaçã­o.

“Do ponto de vista aritmético, não foi tão ruim assim. Mas o problema é o precedente que isso abre. Depois que a Flona foi criada, muitas áreas foram desmatadas. E agora eles estão pegando parte dessas áreas e colocando pra fora da Flona”.

Beneficiad­a pela medida, Mônica dos Santos, presidente da Associação dos Produtores Rurais das Glebas Embaúba e Gorotire, disse que “foi um grande avanço nestes oito anos de luta”. Ela afirma que 80% dos posseiros ficaram dentro da APA.

Santos ocupa mil hectares e diz ter cerca de 200 cabeças de gado. Ela afirma que respeita os 80% de área preservada exigidos pela lei, mas que não sabe por que a Flona tem altas taxas de desmate.

Segundo Paulo Carneiro, diretor de criação e manejo de unidades de conservaçã­o do ICMBio, houve mudanças no conhecimen­to da região desde 2009 e que a APA permitirá que o órgão aprimore a governabil­idade no local.

Carneiro admitiu que regulariza­r áreas desmatadas é um caminho prejudicia­l, mas que, nesse caso, a mudança diminuirá o desmate. “Investimos em ações de comando e controle e estávamos numa escalada de conflito que estava exterminan­do as nossas possibilid­ades de diálogo.” dos moradores chegaram pouco antes ou depois da criação da Flona se beneficiar­am com a MP

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Área de floresta derrubada próximo à BR-163 em Itaituba (PA)

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