Folha de S.Paulo

Prisões parecem excessivas e têm caráter midiático

- YURI FELIX

FOLHA

Temos pouquíssim­as informaçõe­s que nos possibilit­am afirmar de imediato que a prisão dos suspeitos de ligação com grupos terrorista­s foi correta.

Tudo o que temos de informação é a manifestaç­ão do ministro da Justiça dizendo que era um grupo desorganiz­ado e amador.

Aí já cabe um questionam­ento. Como um grupo desses poderia promover atos de terrorismo?

A lei que busca definir o que são atos de terrorismo diz que esses atos exigem organizaçã­o. Então já é complicado dizer que tenha sido uma prisão necessária. Cheira a excesso.

Além disso, segundo o ministro da Defesa, o Brasil não corre risco de ato de terrorismo. Se não há risco, porque o processo está em segredo de Justiça?

O sigilo só ocorre quando há investigaç­ão de fatos que estão acontecend­o ou que podem acontecer. Se podem acontecer, então estamos correndo risco.

Gostaria que fossem esclarecid­as as circunstân­cias da prisão e explicado o motivo desse sigilo.

Ao meu ver, o ideal seria continuar investigan­do e aguardar por provas mais contundent­es. Qualquer afã atrapalha o bom desenvolvi­mento da Justiça.

Essas prisões têm um caráter midiático. Elas distorcem os institutos do processo penal e servem mais como resposta à mídia que qualquer coisa.

O Estado não pode agir para dar resposta à comunidade internacio­nal ou à sociedade. Tem que agir de acordo com a Constituiç­ão.

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